Críticas

“S.O.S. – Tem Um Louco Solto no Espaço”, de Mel Brooks

S.O.S. – Tem um Louco Solto no Espaço (Spaceballs – 1987)

Eu me recordo de um momento específico na minha infância, em que acredito ter tido meu primeiro contato com este filme. Eu devia ter por volta de cinco ou seis anos, estava visitando minha avó paterna em um domingo nublado.

Na televisão, estava passando o programa do saudoso Chacrinha. Os meus pais e minha avó se entretinham em uma conversa animada, enquanto eu, sentado no chão, brincava com alguns bonecos do “He-Man” (entre eles, um forasteiro, um “Rambo” com uma camisa branca e uma águia desenhada no peito).

O intervalo comercial interrompeu as brincadeiras do apresentador e minha atenção foi atraída para uma colorida chamada: “S.O.S – Tem um Louco Solto no Espaço” na “Sessão da Tarde” de segunda-feira.

Naquela época eu ainda nem conhecia a série “Star Wars”, talvez tivesse visto apenas “O Retorno de Jedi”, mas a visão de Rick Moranis e seus enormes óculos, com aquela estranha vestimenta negra e capacete, fizeram-me gargalhar de pé diante da pequena televisão. Esta recordação, a imagem gravada em minha mente, tão comum, recusa-se a ser esquecida.

O fato é que eu provavelmente acompanhei aquela exibição televisiva (e muitas outras reprises), pedi para meu pai alugar em VHS várias vezes nos anos seguintes e hoje tenho em DVD na estante, pronto para levar-me de volta no tempo, sempre que possível.

A comédia não é a melhor dentre as que Mel Brooks realizou, nem mesmo posso considerá-la hoje, com olhos críticos, um primor em seu gênero. “O Jovem Frankenstein” e “Banzé no Oeste” são infinitamente superiores em todos os aspectos, mas, como estas eu conheci já na adolescência, emocionalmente não me tocam tanto. Eu racionalmente reconheço a inferioridade de “Spaceballs”, mas é o único na filmografia de Brooks que causa aquele frio na espinha nostálgico sempre que revisito.

Poder rever John Candy (Baba) e Bill Pullman (Lone Starr) emulando a parceria entre Chewbacca e Han Solo. A bela Daphne Zuniga (Princesa Vespa) e o já citado Rick Moranis (Dark Helmet) são garantia de boas risadas, enquanto nos deliciamos com o roteiro de Brooks e sua verve cômica, que não perdoa nenhum clássico da ficção científica.

O diretor dá vida também ao sábio Yogurt, detentor dos poderes mágicos da Salsicha. O ponto alto da trama ocorre quando o sábio mestre apresenta aos heróis sua linha de merchandising do filme, incluindo um simpático lança-chamas “que as crianças adoram”. Saudade da época em que as sátiras cinematográficas eram elaboradas com inteligência.

Eu tive a oportunidade de encontrar o simpático Bill Pullman em 2010, enquanto cobria o Festival do Rio, na coletiva de imprensa do fraquíssimo “Rio Sex Comedy”. Eu fiz questão de agradecê-lo pessoalmente pelas boas lembranças. Bem-humorado, o ator ainda me presenteou com um: “May the Schwartz be with you” (Que a Salsicha esteja com você!), enquanto apertava minha mão.

Eu voltei emocionado para casa naquele dia, pois um ciclo se fechava: aos cinco anos, eu mantinha os olhos vidrados na pequena televisão, assistindo pela primeira vez ao Bill Pullman, ao lado do saudoso John Candy. Vinte anos depois, lá estava eu batendo um papo rápido com Bill, que para muitos cinéfilos é o presidente americano de “Independence Day”, mas que, para mim, será sempre o cômico aventureiro Lone Starr.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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  • Já faz algum tempo que vc escreveu esse texto, Octávio, mas vc passou exatamente o que eu sinto. Depois de ver as obras clássicas do Mel, eu concordo que racionalmente SOS não é o melhor, mas emocionalmente... nossa, foi como eu conheci o Mel! Hoje sou grande fã do cara. Na verdade, comédias sempre foram minhas favoritas (meus filmes favoritos com muito teor emocional são os do Monty Python e os do Mel Brooks, dentre TODOS os gêneros).

    Bjs,

    Nívea Doria

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