Poltergeist – O Fenômeno (Poltergeist – 1982)
Steven e Diane Freeling, um jovem casal da Califórnia, juntamente com os filhos Dana, Robbie e a pequena Carol Anne, representam a típica família norte americana da década de oitenta. Tudo começa com a menina conversando com o aparelho de TV e móveis que se movem sozinhos, até que em uma noite, durante uma tempestade, Carol Anne desaparece dentro do armário de seu quarto.
Por acaso, em um canal de TV sem sinal, a família pode ouvir sua voz e se comunicar com a garota. Os Freeling procuram uma equipe de parapsicólogos e uma poderosa médium para trazer a menina de volta, mesmo tendo que enfrentar um mundo desconhecido, espíritos furiosos e manifestações demoníacas dentro da própria casa, que esconde um segredo terrível.
O mito popular da maldição que envolve esta trilogia foi iniciado com um ato perpetrado neste primeiro projeto: A utilização de esqueletos reais, ao invés dos cenográficos, que sairiam mais caros, em uma cena com JoBeth Williams na piscina. Vários integrantes da equipe demonstraram insatisfação com aquela escolha, mas a decisão foi mantida.
O fato é que tragédias se acumularam, como a que vitimou Dominique Dunne, que vivia a irmã de Carol Anne no primeiro filme, estrangulada pelo namorado, culminando com o falecimento da jovem Heather O’Rourke, vítima da síndrome de Crohn, antes do desfecho das filmagens do terceiro projeto, pouco depois de completar doze anos. Obviamente são coincidências infelizes que poderiam estar vinculadas a qualquer filme, mas que acabaram sendo utilizadas para saciar a fome da imprensa sensacionalista da época, aproveitando-se da temática sobrenatural.
Steven Spielberg e o diretor Tobe Hooper (evidente elo mais fraco na corrente, como pode ser notado no excesso de humor) buscam evidenciar logo de início a pureza da menina, contrastando-a com os hábitos dos pais, que costumam falar em tom alto e são vistos bebendo e fumando maconha. Carol Anne é o único elemento que transmite paz, parecendo não pertencer àquele ambiente. Não é de se espantar que os espíritos busquem levá-la para a luz, enquanto seu irmão, que sempre é mostrado implicando com a menina, acabe sendo carregado para as trevas da árvore no jardim.
A resolução bem-humorada, com a boa piada envolvendo o televisor, esconde uma subliminar transformação nos desajustados pais, que passam a falar em tom moderado e não são mais vistos em seus velhos hábitos.
A família Freeling se muda na tentativa de recuperar-se do trauma causado pelo sequestro de Carol Anne pela Besta. No entanto, a família será seguida. Assim, a Besta reaparece como o Reverendo Kane, um religioso que foi responsável pelo falecimento de muitos dos seus seguidores. O objetivo da Besta é ter Carol Anne, mas para isto precisa ser mais forte que o amor da família dela, que se uniu a uma mediúnica que já os tinha ajudado no passado e a um sábio índio.
O humor continua nesta sequência, em que o diretor Brian Gibson segue a mesma estrutura do original, inclusive com o, desta vez, inadequado desfecho cômico, porém, mais apoiado no terror gore do que na criação de suspense.
A inclusão da personagem vivida por Geraldine Fitzgerald, como a avó de Carol Anne, pode parecer gratuita (e de fato, serve apenas para estabelecer uma resolução piegas, ainda que medianamente eficiente), mas o mesmo não pode ser dito da participação de Julian Beck, como o reverendo Kane, representando uma figura ameaçadora e cuja presença move o roteiro, elucidando questões e unindo as pontas soltas deixadas no primeiro filme. O ator, outra vítima da suposta “maldição”, aparenta nas cenas o estado avançado do câncer no estômago, que o vitimaria antes do término das filmagens.
Os roteiristas Michael Grais e Mark Victor retornam, mas sem o aguçado olho de Spielberg na condução, entregam um produto desajeitado. Narrativamente, os personagens são consistentes com relação ao que foi estabelecido no original, algo raro em sequências, mas os quinze minutos finais demonstram o despreparo, culminando com a família toda sendo levada à outra dimensão, abusando da suspensão de descrença do espectador.
A família Freeling deixa Carol Anne temporariamente aos cuidados de seus tios em Chicago, onde pudesse ser atendida em uma escola para crianças com problemas emocionais. Porém, no decorrer da terapia, o Reverendo Kane acaba revivendo em sua memória, voltando para persegui-la novamente.
O único ponto positivo neste terceiro projeto é novamente a presença de Zelda Rubinstein, como a paranormal Tangina, que transmite no olhar o subtexto que deveria ter sido explorado no roteiro. Nancy Allen e Tom Skerrit, que vivem os tios da menina, não possuem química alguma em cena e não transmitem carisma, fazendo-nos sentir bastante a ausência de JoBeth Williams e Craig T. Nelson, que realmente pareciam um casal. O mais triste é perceber ao longo das filmagens a progressão da doença na menina, que aparece em algumas cenas com o rosto bastante inchado.
Talvez o melhor tivesse sido nunca exibi-lo, cancelando o projeto, pois é impossível mensurar a tristeza da família ao assisti-lo (se é que já o fizeram). A cena final, refeita pelo diretor Gary Sherman com uma dublê de corpo, cujo rosto não aparece, meses depois do falecimento da menina, não funciona como desfecho narrativo.
Qualquer boa ideia inserida no roteiro (e tinham algumas, como a criativa utilização dos espelhos na criação dos truques cênicos) foi brutalmente comprometida pela tragédia, tornando-o o menos lucrativo e o mais duramente criticado.
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