Trash – Náusea Total (Bad Taste – 1987)
Acho que todos os cinéfilos passam por uma fase exploratória intensa pelo gênero de terror quando pré-adolescentes, enquanto ainda existe a ingenuidade de se encontrar algum filme proibido, um tipo de Necronomicon ou um cubo do Pinhead, como se desafiássemos a morte assistindo a um filme.
Nesta época é que normalmente entramos em contato com aqueles vídeos sensacionalistas com cenas reais (“Faces da Morte”, por exemplo), que nunca conseguíamos assistir sozinhos e que perturbavam nossos sonhos por semanas. A minha experiência mais interessante deste período foi com o filme que abordo no texto.
Costumava visitar de vez em quando uma daquelas bancas de vídeos do mercado clandestino (toda cidade tem a sua), onde a adrenalina era intensificada pelo desespero dos vendedores em não serem abordados pela polícia, procurando estas raridades bizarras. Elas eram, em sua maioria, fitas VHS roubadas de locadoras, vendidas por preços irrisórios e em estado deplorável.
Naquele dia, dois filmes chamaram a minha atenção: “O Rato Humano” (Rat Man – 1988) e “Trash – Náusea Total”. As capas eram mais sensacionalistas que todos os jornais populistas juntos! Eu me lembro de pedir uma sacola preta ao comerciante, por pura vergonha de voltar para casa com aqueles produtos. O tal rato era uma bobagem só, com uma fotografia bastante escura.
Mal dava para entender os ataques do dominicano Nelson de la Rosa (considerado o menor homem do mundo, falecido em 2006) nas jovens, mas o filme do diretor então desconhecido Peter Jackson (como me surpreendi ao vê-lo capitaneando anos depois a trilogia “Senhor dos Anéis”) causou-me reações extremas de enjoo e gargalhadas. Logo se tornou um “teste de resistência” entre meus colegas de prédio e familiares.
A maior diversão era ver a reação das meninas ao contemplarem cenas como a do homem que insere a carne de um pombo falecido em seu próprio cérebro, atando-o com um cinto. A nojeira explícita era tão absurda, que as imagens ficaram gravadas em minha memória eternamente.
Jackson realizou a obra com míseros cinquenta mil dólares, utilizando amigos como atores e tendo ajuda dos pais nas filmagens. Previsto como um curta, ele acabou consumindo quatro anos em sua produção e acabou sendo estendido para um longa-metragem, o primeiro na carreira do neozelandês.
Esta grande brincadeira fica cada vez melhor em revisões, levando-nos a gravar seus péssimos diálogos e perceber novos detalhes nos “defeitos” especiais. Não existe roteiro, apenas uma ideia que é coerentemente mal trabalhada do início ao fim, em que alienígenas disfarçados de terráqueos (inclusive um interpretado pelo próprio diretor) buscam carne humana para uma rede de fast-food intergaláctica.
Claro que, após o sucesso de Jackson, muitos críticos chegam a incensar características da obra como indícios latentes de um futuro talento, mas sinceramente afirmo que nada de algum valor existe em “Bad Taste” (Mau Gosto), apenas um maravilhoso despretensiosismo, próprio das melhores brincadeiras juvenis.
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