007 Contra o Foguete da Morte (Moonraker – 1979)
Em 1977 estreou nos cinemas a obra de um jovem diretor chamado George Lucas, uma saga espacial inovadora chamada “Star Wars”. O modesto filme lucrou mais de quarenta e cinco vezes o valor investido. O mundo do cinema nunca mais seria o mesmo. Os olhos do público agora visavam o espaço, ansiavam por novas batalhas cósmicas e exposição excessiva de efeitos especiais. Como o agente secreto iria encarar isto?
A solução proposta pelo produtor Albert Broccoli era simples, levar o agente James Bond ao espaço sideral com o comando do diretor Lewis Gilbert. A intenção era nobre, mas provou-se um fracasso de crítica.
Na trama, o espião é encarregado de investigar o misterioso sumiço do Moonraker, uma moderna nave espacial capaz de entrar em órbita e retornar ao planeta como um avião. O principal suspeito do crime é Hugo Drax, vivido por Michael Lonsdale, o dono da empresa que construiu a nave. O seu intuito sórdido remete ao de seu antecessor Carl Stromberg, que no filme anterior queria criar uma sociedade submarina, novamente os produtores abusando no período dos extremos: anão/gigante, mar/espaço.
Drax pretende destruir o planeta e criar uma nova raça perfeita. O comparsa Chang (Toshiro Suga) é apenas mais uma variação do capanga idealizado desde 1964 com Oddjob (em “Goldfinger”). Lois Chiles interpreta a Bond Girl Holly Goodhead, uma agente da CIA infiltrada nas empresas do vilão. Junto com a personagem do filme anterior, Triplo-X, ela personifica uma tendência iniciada na metade dos anos 70, que iria se afirmar ao longo da franquia, mulheres independentes e tão competentes quanto o herói. O filme é célebre por marcar a última participação do ator Bernard Lee como M, o superior de 007. O ator havia estado presente em todos os filmes da série, desde “Dr. No”, de 1962.
Como uma das locações, a produção escolheu o Brasil, porém o país que aparece na tela assemelha-se pouco com o nosso. O espião é visto chegando no Rio de Janeiro a cavalo, vestindo poncho e chapéu, parecendo mais um bandoleiro mexicano dos faroestes italianos. Mas nem tudo ficou caricato. Todo o exotismo de nosso Carnaval foi captado, assim como a clássica cena de batalha entre Bond e Jaws (Richard Kiel) no tradicional Bondinho do Pão de Açúcar, um dos poucos pontos a se destacar no projeto.
Mais fácil é falar do que não deu certo na produção, como a tentativa frustrada de transformar o ótimo vilão Jaws em um alívio cômico desnecessário e a fuga de Bond pela Praça de São Marcos em Veneza, utilizando uma gôndola que se transforma num veículo terrestre, momento que ultrapassa os limites do aceitável, mesmo levando em
consideração tratar-se de um período mais fantasioso para a franquia, e, seu pior problema, a cena não empolga.
Tentaram repetir o êxito imagético do carro submarino do filme anterior, mas conseguiram apenas um momento de genuína vergonha alheia. Hugo Drax é quase uma cópia de Carl Stromberg, com objetivos similares, um desperdício de um ótimo ator. Vale ressaltar que Michael Lonsdale abraça o minimalismo e consegue salvar várias cenas.
A sequência final apresenta uma batalha que só vendo para acreditar! Vários astronautas atirando lasers uns aos outros, em pleno espaço sideral. Ao tentarem emular o sucesso do fenômeno mundial “Star Wars”, os produtores perderam a essência do que fazia o personagem ser um sucesso, exagerando na dose. Na trilha musical, outra vez Shirley Bassey não desaponta e entrega uma linda canção-tema, composta por John Barry.
O filme foi um sucesso de público, mas é reconhecido atualmente, com razão, como um projeto abaixo da média na franquia. Havia chegado a hora do personagem se reencontrar com sua essência literária, o agente original criado por Ian Fleming estava escondido debaixo de todo aquele ar de superprodução espacial. No próximo filme, um tom mais sério seria utilizado.
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