Críticas

“007 – Na Mira dos Assassinos”, de John Glen, no TELECINE

007 – Na Mira dos Assassinos (A View To a Kill – 1985)

Roger Moore estava com 57 anos e havia chegado a hora de sua aposentadoria como o maior agente secreto do cinema. Os produtores Albert Broccoli e Michael Wilson queriam fazer deste crepúsculo algo especialmente memorável para os fãs, portanto não pouparam despesas na escalação do elenco e nos custos de produção.

Inicialmente tentaram escalar David Bowie para o papel do vilão Max Zorin, mas após a recusa do camaleônico cantor recrutaram para a tarefa o vencedor do Oscar (por sua atuação em “O Franco-Atirador”, de 1978): Christopher Walken. Ele interpreta o um industrial excêntrico que fugiu da Alemanha e fez uma fortuna com prospecção de petróleo. Dono de um haras geneticamente controlado, com cavalos de corrida invencíveis, o excêntrico milionário esconde um segredo que nos remete à eterna criação de Mary Shelley. A exótica cantora jamaicana Grace Jones rouba a cena como May Day, companheira e ajudante de Zorin.

A produção sofreu um pequeno atraso, pois devido a uma quantidade grande de galões de gasolina deixados pela equipe de filmagem do filme “A Lenda” de Ridley Scott, o “Estúdio 007” (Pinewood) foi praticamente destruído em um incêndio. O bravo Albert Broccoli reconstruiu e rebatizou-o de “Albert R. Broccoli´s 007 Stage”, em tempo para o início das filmagens principais. O maior desafio coube ao diretor John Glen, responsável por mascarar a avançada idade do protagonista. A maneira encontrada foi intensificar ainda mais as cenas de ação, ainda que em muitas delas ficasse muito distinguível a presença do dublê.

Este seria o último filme da franquia para Moore e Lois Maxwell, que interpretou a adorável secretária Moneypenny desde “Dr. No”. A canadense Tanya Roberts, que tinha acabado de sair da popular série “As Panteras”, hoje é lembrada como a Bond Girl mais “apagada”. Ela vive Stacey Sutton, filha de uma das vítimas do vilão, uma personagem que não acrescenta muito à trama, ofuscada pelo brilho de Grace Jones. Patrick Macnee, amigo de Moore, interpreta o fiel escudeiro: Godfrey Tibbet. Uma escolha que serve como alívio cômico, mas que soa inadequada para um filme da franquia (não tão inadequado quanto o execrável personagem Xerife Pepper de “Live and Let Die” e “The Man With The Golden Gun”, vale salientar), fazendo-nos sentir falta da química entre o espião e Felix Leiter.

Dentre as cenas de ação, vale destacar a solução desesperada do herói para impedir seu afogamento, quando trancado em um Rolls-Royce dentro de um rio. Ao perceber que seus algozes o observam da margem, o agente desatarracha a tampa de ar do pneu e passa a respirar o ar que sai da câmara. Outra cena que ficou famosa é a sequência pré-títulos, em que Bond, ao som de “California Girls”, dos Beach Boys, foge dos russos surfando de esqui em plena neve.

A trilha sonora ficou a cargo novamente de John Barry e a excelente canção título foi interpretada pela banda Duran Duran. O baixista John Taylor, um grande fã da franquia, aproximou-se de Broccoli em uma festa e perguntou-o corajosamente: “Quando vocês irão colocar alguém decente para fazer suas canções tema?” Esta ousadia o levou a criar a canção “A View to a Kill”, o primeiro tema verdadeiramente pop a emoldurar um filme de 007. O resultado: um sucesso mundial gigantesco.

O projeto rendeu bem nas bilheterias, mas foi um justo fracasso de crítica. O próprio Moore o considera seu pior filme. O ator, muito bem-humorado em uma entrevista de 2007, confessou: “Eu estava apenas uns 400 anos acima da idade necessária para o papel”. A obra realmente não foi a despedida que ele merecia.

O ator foi o responsável pela longevidade da série, que teria certamente acabado após a saída de Connery e a tentativa fracassada com Lazenby. O seu humor simpático e bon vivant tornou-se uma marca indelével e ninguém conseguirá imitá-lo. Assim como Connery, Moore estabeleceu um James Bond inesquecível para os fãs.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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