007 – O Mundo Não é o Bastante (The World is Not Enough – 1999)
O milênio estava acabando e a franquia criada por Cubby Broccoli e Harry Saltzman em 1962 havia conseguido se manter no olimpo cinematográfico, mesmo que com pequenos escorregões.
O diretor inglês Michael Apted, cujo maior sucesso havia sido “Na Montanha dos Gorilas”, com Sigourney Weaver, foi convocado para conduzir o agente nesta nova fase. Pierce Brosnan já se sentia confortável interpretando o espião, mas um elemento utilizado em excesso no filme anterior causou-lhe desconforto: o “product placement” (merchandising). Ele então incluiu em seu contrato uma cláusula que lhe concedia direitos de opinar sobre a utilização desta ferramenta.
O roteiro foi escrito por Neal Purvis, Robert Wade (a dupla continuou trabalhando na franquia, incluindo o recente “Skyfall”) e Bruce Feirstein. O título deriva do lema pessoal do protagonista, como impresso em seu brasão familiar, visto no filme de 1969: “On Her Majesty’s Secret Service”. A trama remete ao cinema Noir, envolvendo o assassinato de um magnata do petróleo por um vilão que, após levar um tiro e a bala alojar-se em seu cérebro, fica incapaz de sentir dor e vai perdendo todos os sentidos lentamente. A sua morte é iminente, mas a cada dia que se aproxima de seu cruel destino, ele fica mais forte.
Um conceito bastante criativo e interessante, mas que não é aproveitado plenamente. O anarquista Renard é vivido pelo escocês Robert Carlyle. O seu personagem sequestra a filha do magnata: Elektra King (Sophie Marceau) e os efeitos deste acontecimento irão moldar a história que se desenrola sem muita paixão.
A Bond Girl desta vez é a fisicista nuclear Christmas Jones, vivida pela bela e pouco talentosa Denise Richards. A escolha é uma clara brincadeira que não combina com o estilo adotado na obra. Robbie Coltrane retorna como o mafioso russo Valentin Zukovsky, sendo sua química com o herói um dos poucos pontos altos. Judi Dench retorna com uma participação mais influente, algo que voltaria a ocorrer no recente “Skyfall”.
Este filme também marcaria a despedida de Desmond Llewelyn, o eterno Q, da franquia. Em uma demonstração de sensibilidade dos roteiristas, ele sai de cena de forma emblemática e sutil, enquanto um novo personagem aparece para substituí-lo. Desmond faleceu em um acidente de carro após o fim das filmagens, no dia 19 de Dezembro de 1999. Durante muitos anos ele havia sido o elo entre os primórdios da franquia e o agente contemporâneo que atraía os adolescentes modernos. O personagem que o substituiu neste e no filme seguinte foi vivido pelo excelente cômico britânico John Cleese, do grupo Monty Python.
A cena mais marcante em uma obra com poucos momentos interessantes é a sequência pré-títulos, a mais longa até aquele momento, com quatorze minutos, uma perseguição de lanchas no rio Tâmisa que termina em um balão de ar quente. David Arnold retornou como compositor, quebrando a tradição iniciada em “The Living Daylights”, duas canções, uma no início e outra no final. A linda canção-tema foi escrita por Arnold em parceria com Don Black, letrista de temas clássicos como “Thunderball” e “Diamonds are Forever”, e interpretada pelo grupo Garbage.
O filme se tornou o mais bem sucedido nas bilheterias, até a estreia do próximo, com um lucro de 361 milhões de dólares pelo mundo. A intenção era clara: fidelizar (leia-se: entregar exatamente o que esperam) este novo público adolescente que havia comprado a versão de 007 vivida por Brosnan, uma decisão que culminou na tragédia que se tornaria o próximo filme da franquia, um arremedo de ideias equivocadas e que quase colocaram fim no sonho de Ian Fleming.
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