Críticas

“007 – Cassino Royale”, de Martin Campbell, na AMAZON PRIME

007 – Cassino Royale (Casino Royale – 2006)

Após os erros cometidos na década anterior, os produtores perceberam que haviam exagerado na quantidade de pirotecnia e efeitos especiais, especialmente em “Die Another Day”, decidiram então realizar o próximo filme da velha maneira, com o valoroso uso dos dublês e ótimas ideias. Para se juntar a Neal Purvis e Robert Wade, foi chamado o talentoso roteirista e diretor Paul Haggis. Juntos iriam ajudar a levar com considerável fidelidade a primeira história criada por Ian Fleming para as telas.

O primeiro grande problema da produção foi a saída de Pierce Brosnan. Uma longa lista de atores foi especulada como sendo possíveis candidatos. Nomes como Clive Owen, Hugh Jackman e Eric Bana, mas a escolha final foi tida como muito arriscada e execrada por uma plateia de fãs descontentes. Para a direção, escolheram Martin Campbell, que já havia feito um ótimo trabalho no primeiro filme de Brosnan, “Goldeneye”.

Assim como Timothy Dalton, o novo James Bond também estava dedicando-se de corpo e alma ao projeto, afirmando ter lido todos os livros de Fleming e se baseado em dicas dadas por reais agentes do serviço secreto britânico. O escolhido para o papel foi o inglês de 36 anos: Daniel Craig. Sobre o personagem, o ator disse na época: Bond é um assassino, você consegue ver em seus olhos imediatamente. Do tipo que entra em um quarto e muito sutilmente checa o perímetro, procurando uma saída. Este foi o tipo de caracterização que eu queria.”

Em 14 de Outubro de 2005, os produtores confirmaram o nome do ator em uma coletiva de imprensa realizada em Londres. Este foi o início de uma campanha de extremo mau gosto e preconceituosa contra Craig. Muitos fãs rejeitaram a presença dele, sem mesmo terem visto um minuto de filme. Protestos se seguiram e inclusive um boicote foi organizado. Muitas foram as razões para tamanho descontentamento: sua alegada feiura, falta de elegância e carisma.

Durante toda a pré-produção do projeto, um veículo na internet intitulado: danielcraigisnotbond.com (Daniel Craig não é Bond), atacava diariamente o ator, que se mostrava publicamente magoado com o fato. Acreditando terem feito a escolha certa, os produtores seguiram com o projeto.

A trama retirada do livro de 1953, fala sobre a primeira aventura do espião após ser concedida sua licença para matar. O audacioso agente é enviado para confrontar-se com um banqueiro terrorista chamado Le Chiffre, interpretado por Madds Mikelsen, em uma rodada de apostas no Cassino Royale. Para ajudá-lo, uma agente do tesouro chamada Vésper Lynd é enviada ao seu encontro. A primeira Bond Girl literária e a de maior importância na criação da persona do agente, algo potencializado nesta versão cinematográfica, vivida pela bela atriz Eva Green.

Numa acertada decisão, os produtores decidiram manter a talentosa Judi Dench no papel de M, a chefe de Bond. A sua relação com o espião ainda é permeada de conflitos e insegurança, pois o mesmo ainda se encontra em um estágio inicial, como uma criança, sendo M, metaforicamente sua mãe, algo que rimará perfeitamente na trama de “Skyfall”. Ecoando um evento passado, um Felix Leiter negro é escolhido (o primeiro havia aparecido no filme não-oficial: “Nunca Mais Outra Vez”), sendo interpretado por Jeffrey Wright. Outro nome de peso no elenco é o do italiano Giancarlo Giannini, como René Mathis, o contato do agente em Montenegro.

Daniel Craig aparenta ser um lutador de MMA em comparação com Sean Connery, mas a mudança é entendida se percebermos a real intenção dos produtores e de Martin Campbell: mostrar a transformação de uma pedra bruta em diamante, cortando as arestas sem piedade. O jovem agente não dá importância a qual bebida tomar, contanto que mate sua sede. Por pura imaturidade, cometerá o erro primário de se apaixonar. Este evento e suas consequências irão moldar indelevelmente o caráter do espião, levando-o a dar o primeiro passo rumo ao personagem estabelecido nos filmes da década de 60.

A ausência de elementos fundamentais da franquia, como o personagem Q e a secretária Moneypenny, irritaram muito os fãs mais dedicados, mas faz-se preciso entender que esta fase representa mais um degrau na evolução do personagem. Como ficaria provado anos depois, não seria um definitivo adeus aos elementos clássicos, mas sim, um promissor “até breve.”

Os produtores decidiram dar um passo atrás, como que um respiro final antes do salto, algo que ocorre com frequência nesta produção, graças à excelente utilização do Parkour, que inclusive funciona também no nível narrativo, pois diz muito sobre a intempestividade deste 007 “1.0”, que atravessa paredes ao invés de abrir portas. Com esta decisão, não só conseguiram trazer novos fãs à franquia, como também abriram um leque de oportunidades nunca antes abordadas.

Além dos avanços realizados narrativamente, uma sequência de ação no filme entrou para o livro dos recordes: o clássico Aston Martin, tentando evitar uma tragédia, rodopia sete vezes no ar antes de chocar-se definitivamente no chão.

A trilha sonora foi entregue nas mãos de David Arnold e a canção-tema foi composta e cantada por Chris Cornell: “You Know my Name”. Numa citação da canção: “O sangue mais frio corre pelas minhas veias,… Você sabe meu nome”. Uma letra inspirada e que já entrou na lista das preferidas dos fãs. Para simbolizar a criação do personagem, o tradicional “Bond Theme” não aparece durante o filme inteiro, apenas em seu final, quando o protagonista aprende com alguns erros e amadurece, ainda não plenamente, pois faltava desconectar-se emocionalmente de Vesper.

O filme estreou em 14 de Novembro de 2006 com excelente bilheteria, quebrando os recordes do filme anterior com facilidade. Após a estreia, tanto os críticos quanto a maioria dos fãs foram unânimes: Daniel Craig representou muito bem o papel. O ator foi inclusive alvo de comparações com o lendário Sean Connery. Acredito que muito da garra que o ator apresenta na tela venha de seu próprio orgulho ferido.

Poucas vezes na história do cinema, um profissional teve a chance de dar a volta por cima e provar seu talento de maneira tão inusitada e gloriosa. “007 – Cassino Royale” foi eleito por muitos críticos como um dos melhores filmes do ano e garantiu a continuação. Craig voltaria em 2008, já redimido e querendo mais.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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