Críticas

“Rocky 5”, de John G. Avildsen, na NETFLIX

Rocky 5 (1990)

Eu sou fã da criação de Sylvester Stallone, seu projeto dos sonhos deveria ser mostrado em faculdades de publicidade como um case de sucesso. Ele escreveu o primeiro “Rocky” se baseando em uma luta épica entre Muhammad Ali e o azarão Chuck Wepner, ocorrida em 1975.

Consigo até imaginar um jovem Stallone, vendo a luta e (como toda a nação) acreditando tratar-se apenas de mais uma exibição de habilidade do franco favorito Ali. Poderia ser dito até que o desafiante não possuía talento suficiente para estar no mesmo ringue que seu famoso oponente. Mas o que a sociedade americana viu extasiada foi uma demonstração valorosa de coragem e paixão de Wepner, que não somente aguentava com bravura os golpes de Ali, como os revidava! Como se sua vida estivesse em jogo, ele acerta uma direita nas costelas do campeão, que não suporta e desaba. Ali vence a batalha, mas a real glória é reservada para seu oponente, que contra todas as expectativas, aguentou firme até o final da luta e ainda provou para uma multidão de espectadores que deuses também sangram.

Stallone voltou ao tema (após três filmes divertidos, mas sem muita profundidade) da superação em seu quinto projeto, que foi dirigido pelo realizador do primeiro: John G. Avildsen. Recebido com ódio pelo público da época, que esperava mais um empolgante projeto, com montagens musicais que substituíssem uma maior competência nos roteiros, “Rocky 5” continua até hoje bastante incompreendido.

Na trama, o boxeador vive as consequências físicas e psicológicas de sua batalha contra o russo Ivan Drago no filme anterior. Exaurido, endividado e com um tumor no cérebro, Rocky descarrega suas frustrações ao depositar toda sua esperança no jovem Tommy Gunn (Tommy Morrison), que à primeira vista lhe remete ao seu próprio passado, quando batalhava para ser reconhecido.

Não demora muito para que seus familiares percebam o caráter duvidoso do jovem, que utiliza os conselhos do experiente campeão, mas ambiciona uma carreira de luxo e glamour, que somente George Duke (Richard Gant, emulando Don King) pode lhe oferecer. Neste processo angustiante de progressiva traição, o filho adolescente de Rocky é o que mais sofre, pois se sente abandonado pelo pai. Somente quando nosso herói faz as pazes com seu passado, percebe que ainda deseja “mais um round”, mesmo que seja no frio asfalto das ruas da Filadélfia.

Sempre me emociono quando revejo este filme, que até a estreia de “Rocky Balboa” (2006), tinha sido o que mais havia me tocado na série. Dentre as várias cenas a salientar, como esquecer-me da participação de Burgess Meredith como seu velho treinador (mentor e amigo) Mickey? Lembro e aquele velho arrepio (prenúncio das lágrimas) retorna. Após um belo flashback em meio ao pó e as teias de aranha do velho ginásio, Rocky volta a ouvir as palavras de Mickey na intensa luta final. A montagem que intercala o clamor do velho amigo: “Levante-se seu desgraçado, porque o Mickey te ama”, com um trem em movimento e o guerreiro levantando-se com um novo brilho no olhar, faz engasgar até o mais durão dos homens.

Stallone sabe muito bem manipular a emoção de seu público. Tenho certeza que existem muitos diretores conceituados que adorariam ter esta facilidade, tocar no emocional do público e levá-lo a esta catarse, tão bem quanto estimulam o lado intelectual.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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