Pasqualino Sete Belezas (Pasqualino Settebellezze – 1975)
A diretora italiana Lina Wertmüller (que iniciou como diretora assistente de Fellini) chamou a atenção do mundo com este filme, foi a primeira mulher a disputar um Oscar de direção. O maior mérito da produção não se encontra neste fugaz evento de auto-celebração americano, tão imerso em lobby e politicagem, mas sim na força de seu roteiro e na incrível coragem que demonstra em cada frame.
A ousadia maior foi utilizar a comédia como ferramenta para contar a história de Pasqualino Frafuso (Giancarlo Giannini em uma atuação impecável), um homem que vive de aparência, falso moralista e covarde. Desrespeita qualquer senso de ética, mas reage violentamente (e de forma desastrada) sempre que suas sete irmãs são expostas a alguma situação humilhante.
O humor já nasce ao percebermos que as “Sete Belezas” são incrivelmente desprovidas de qualquer charme ou graça, acentuando a sensação de que estamos diante de uma obra farsesca, alegórica. Nosso torpe herói acaba se envolvendo em um crime enquanto tentava manter a honra de sua família, o que o acaba levando a um tribunal e a uma espiral descendente de eventos, em que terá seu ego e amor próprio abalados, tendo como pano de fundo a ascensão do regime alemão na Segunda Guerra Mundial.
Giannini trabalha sua caracterização com sutis referências à Chaplin, evidenciadas por seus olhares e seu caminhar. O clássico vagabundo, mesmo sobrevivendo a uma existência paupérrima, mantinha sua pose refinada, assim como o Pasqualino de Giannini, que esconde um cerne corruptível e medroso envolto em uma pose segura, “bon vivant” e autoritária. Esta sua postura já fica clara logo nos primeiros momentos da obra, quando ele testemunha a eliminação de judeus pelos alemães e não parece sentir remorso por não tentar evitar aquela situação.
A crítica ao conformismo (já inclusa de maneira eficiente na música que inicia o filme) se torna cada vez mais direta, ao passo em que o protagonista se vê tendo que tomar decisões cada vez mais degradantes, como flertar com uma pouco atraente alemã (chefe do campo de concentração) na tentativa de fugir do inferno da guerra. Como um dos personagens afirma no filme, quando a ordem é guiada pelo caos, somente um homem desordenado pode se salvar.
O triunfo maior de “Pasqualino Sete Belezas” é nos fazer torcer por um protagonista nada heroico. Um homem que sobrevive de sua covardia. Alguém que molda seu caráter mediante os obstáculos. A cena final maravilhosa exprime com exatidão as consequências traumáticas deste estilo de vida.
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