Saiba, ó leitor, que entre os anos quando os oceanos tragaram a Atlântida e as reluzentes cidades, e os anos quando se levantaram os Filhos de Ataliba, houve uma era inimaginável, repleta de reinos esplendorosos que se espalharam pelo mundo como miríades de estrelas sob o firmamento. Entre um reino esplendoroso e outro não tão esplendoroso assim, havia uma pequena vila ao norte do desfiladeiro de Duque de Caxias e próximo de Vilar dos Teles. Nesta terra inóspita, dois homens fizeram de tudo para entrarem para a História. Estas são as aventuras do tribuno romano Caio Marcos e seu escravo etrusco Lorín. Ambos viveram loucamente por volta do ano 10 a.C. (ainda que eles contabilizassem à época como 116 d.f.q, ou “depois do fim da quermesse”, em homenagem aos esforços de um aldeão à frente de seu tempo, que tentava catequizar seu povo, antes do próprio catolicismo, tendo sido o primeiro a promover uma simpática quermesse onde celebrava a si mesmo: São Ataliba)… Como me estendi um pouco no texto entre parênteses, acho melhor repetir.
Ambos viveram loucamente por volta do ano 10 a.C., porém nas páginas da História não caberiam suas experiências sociológicas no campo da sexualidade. Numa entrevista posterior ao falecimento de Caio, concedida para a “Revista Togas”, Calígula exaltava os inumeráveis avanços do falecido na arte do sexo, afirmando que havia aprendido praticamente tudo com ele. Em suas palavras: “Caio era ousado demais, aquele malandrinho…”. A bela esposa de Caio, que durante anos praticou a arte de se fingir de cega, lembrava com carinho de Lorín, que (em suas palavras) “escondia por trás das cicatrizes e dos grunhidos, uma alma pura e generosa”. Sua popularidade como tribuno sofreu um baque forte, quando o povo descobriu atordoado que ele não sabia como realizar seu trabalho. Os habitantes da vila não contiveram a revolta e se reuniram numa noite fria em uma manifestação que tomou a única rua que havia, enquanto Caio Marcos e Lorín fugiam correndo, totalmente nus, na direção contrária. Humilhados e em terras estranhas, restava aos dois somente o desejo pela aventura.
Agora vamos falar de uma coisa boa. Você já começou a colecionar os “Action-Figures” da série “Pornochanchada Nacional”? Reserve com seu jornaleiro o exemplar da semana, que traz um figurante do filme: “Visita Íntima na Cadeia Fogosa” em escala 1/6 (com mais de trinta pontos de articulação). Agora você poderá reproduzir com incrível fidelidade a clássica cena do estupro na prisão. O fascículo da próxima semana trará como brinde a protagonista de “Como era Gostosa minha Fazenda”, acompanhada do pangaré Soluço e de um anão sanfoneiro. Está esperando o quê? Garanta já o seu exemplar!
“Cenas do próximo episódio”:
Caio Marcos descobre uma máquina do tempo convenientemente colocada no topo de uma montanha e busca desesperadamente se reencontrar com Lorín, que horas antes havia viajado por engano para o futuro, e estava sendo convocado para prestar esclarecimentos ao escritor Herman Melville, que não acredita em sua história e o reconhece como um plágio vivo de seu personagem Queequeg, de “Moby Dick”. Para o azar do escravo, a máquina do tempo perde o controle e leva o tribuno romano para o Brasil da década de 70.
Caminhando perplexo pelas ruas, fica admirado ao ver o sugestivo pôster de “Como era Gostosa minha Fazenda” em um cinema de rua. Levantou os olhos para o céu e afirmou com um sorriso de satisfação: “Domi adsum (Estou em casa)…”
Sonhos Eróticos de Uma Noite de Verão (A Midsummer Night’s Sex Comedy – 1982)
O amor está no ar e magia corre solta quando Andrew (Woody Allen), um inventor da virada do século, e sua esposa Adrian (Mary Steenburgen) recebem os convidados para o casamento campestre do pomposo filósofo Dr. Leopold (Jose Ferrer) e sua jovem noiva Ariel (Mia Farrow). Mas quando o melhor amigo de Andrew, o Dr. Maxwell Jordan (Tony Roberts) e sua ardente enfermeira Dulcy (Julie Hagerty) chegam para as festividades, o local é tomado por seduções ardentes, casais embaralhados e uma mágica loucura.
O roteiro foi concebido em apenas duas semanas, encomendado pelo estúdio no intuito de “tapar o buraco” que seria causado pelo atraso na produção de “Zelig”. A pressa é facilmente perceptível no trabalho concluído (personagens pouco desenvolvidos, como o médico que é mostrado como uma pessoa centrada, mas que tenta se suicidar por não ter o amor de uma mulher que acaba de conhecer), ainda que ele possua algumas cenas muito
boas, o seu conjunto é bastante irregular. O filme mais fraco de Woody até aquele momento. Buscando inspiração em seu ídolo Ingmar Bergman (especificamente em “Sorrisos de Uma Noite de Amor”, de 1955), o roteiro explora o jogo de flerte entre três casais que se reúnem em um idílico local, para celebrar o casamento de um deles. Foi o primeiro projeto que contou com Mia Farrow, numa longa parceria que renderia ótimos frutos artísticos e um problemão na justiça.
Dentre os pontos altos, destaco o rompante de libido de Adrian com o marido, após receber da espevitada Dulcy, algumas dicas de sexo (Allen: “Não podemos fazer sexo no lugar onde nos alimentamos, além do mais, tem um homem entoando o “Pai Nosso” na sala, iremos ficar cegos”). Simplificando sua opinião sobre a importância das relações sexuais, o personagem de Allen afirma: “Sexo alivia a tensão, enquanto o amor causa tensão”. Após o elegante Leopold contar sobre seu sonho erótico selvagem com Dulcy, ela assustada o questiona: “Jesus, o que você comeu antes de ir dormir?”. São pequenos momentos onde podemos perceber que, mesmo criando algo de forma apressada, Woody Allen consegue fazer um filme de qualidade.
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