Ensina-me a Viver (Harold and Maude – 1971)
A sensível história, um elegante manifesto de liberdade, foi o primeiro trabalho do roteirista e diretor Colin Higgins, que conseguiria ainda outro sucesso (ainda que não na mesma proporção) com o roteiro de “O Expresso de Chicago” (Silver Streak – 1976), o veículo que apresentou ao mundo a química que havia entre Richard Pryor e Gene Wilder. A direção de Hal Ashby envolveu a obra com uma ternura ímpar. Em nenhum momento questionamos a veracidade do sentimento do casal.
O olhar zombeteiro que Harold direciona a nós, após assustar sua primeira pretendente, com o acompanhamento dos primeiros acordes da canção “I Think I See The Light” (excelente trilha sonora de Cat Stevens), marcou-me profundamente quando vi pela primeira vez, ainda na pré-adolescência, numa sessão da madrugada televisiva.
Acredito que tenha sido a primeira vez que vi algum personagem quebrar a quarta parede (sem contar com o sorriso de Christopher Reeve ao final de “Superman”), ainda que não soubesse que aquele ato era chamado dessa forma, achei incrível. Anos depois descobri que este momento não estava no roteiro, tendo sido inteligentemente improvisado pelo ator Bud Cort em cena.
Tantos momentos que ficam marcados em nossa memória emotiva. O garoto que vivia desafiando a finitude numa valsa cômica, acorrentado aos anseios mediocrizantes de uma mãe fria (que belo momento, quando o jovem assusta-a com um simples abraço, complementando simplesmente com: “Isto é só um abraço”) e excessivamente preocupada com o que os outros irão pensar de sua própria vida.
O encontro com a senhora septuagenária, vivida por Ruth Gordon, sobrevivente de um campo de concentração alemão, que se recusa terminantemente a abraçar sua finitude. A crítica divertida, mas contundente, aos militares e às guerras, simbolizada na genial cena em que, intencionando fugir do serviço militar proposto por seu tio, o jovem simplesmente demonstra seu excessivo apreço pela violência nos campos de batalha.
O amor que nasce às margens das exigências sociais, entre um senhor adolescente e uma jovem idosa, ambos compartilhando aprendizados sobre a vida, a finitude e a importância da tenacidade perante a ignorância, que na vida de Harold era simbolizada (além da mãe) pelo representante do clero e o defensor da psicologia, profissionais tão anestesiados em seus próprios dogmas, que se mostram incapazes de reagirem naturalmente ao elemento mais natural do falível ser humano: o amor.
Ao resistir, o garoto demonstra ter se tornado um homem, enquanto sorri para os caricatos e infantilizados adultos que o circundam, tão cheios de si e vazios dos outros.
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Muita percepção e sensibilidade em seus comentários! Você é um achado!!!
Muito,muito obrigada pelas dicas! (Y) Estarei sempre garimpando ahe! Seu Site é formidável!
Grato demais pelo carinho com o meu trabalho, Janete. Bjão!!