Celebro a arte de um artista único em sua área, alguém que conseguiu em vida representar as facetas mais nobres do ser humano: James Stewart.
Ele foi considerado por seus colegas na indústria como a epítome da elegância. A sua natureza era genuinamente íntegra, levando-o a não se furtar de expor suas opiniões, suas verdades, mesmo quando havia grande chance de que elas caminhassem contra o senso da maioria.
Ele falava abertamente contra o processo de colorização de filmes clássicos, algo interessante para a indústria, durante a década de oitenta, como uma forma de protestar contra o que considerava uma falta de respeito com os profissionais que haviam trabalhado naquelas obras.
Ele amava especialmente, dentre todos os seus papéis, o que interpretou no belo “A Felicidade não se Compra” (It’s a Wonderful Life – 1946) de Frank Capra. O personagem que ele defende neste clássico e em outro do mesmo diretor: “A Mulher Faz o Homem” (Mr. Smith Goes to Washington – 1939), podem ser considerados reflexos fiéis de sua conduta em vida. O generoso George Bailey ou o corajoso Jefferson Smith, ambos se arriscam a perder a sanidade, mas não admitem que seus valores tombem ou sequer se curvem perante o que consideram errado.
Quando recebeu o prêmio honorário por sua carreira no Oscar de 1985, afirmou visivelmente emocionado: “o maior prêmio que já recebi, foi perceber que mesmo após todos estes longos anos, eu não fui esquecido”. A plateia, composta por membros da nova geração e por velhos colegas dele, não conteve a emoção e recebeu-o de pé, aplaudindo-o entusiasticamente por longos dez minutos.
Hoje em dia estas cerimônias e a própria indústria encontram-se tão artificiais que situações como essas não voltarão a ocorrer, porém, houve uma época em que maior valor era dado aos artistas que subiam ao palco, do que ao tempo de seus discursos.
Os membros da plateia também reagiam emocionalmente, preocupando-se menos em como iriam aparecer quando as câmeras os focalizassem. Ídolos que hoje são feitos de barro, mais preocupados com o lobby do tapete vermelho do que com a real função dessas premiações: reverenciar de forma justa o trabalho dos colegas.
A forma como Cary Grant se referiu a ele, enquanto chamava-o ao palco, já explicita o sentimento que o homenageado de hoje conquistou: “um homem que todos nós amamos, respeitamos e admiramos”. Não existe forma mais digna de se chegar ao crepúsculo de uma vida.
Stewart me fez acreditar em Jefferson Smith quando assisti a “A Mulher Faz o Homem” pela primeira vez, ainda na pré-adolescência. Não somente ele me inspira de forma lúdica, como vivo mediante o mesmo código de valores que o personagem tão arduamente batalhou para fazer valer. No famoso discurso final do personagem no julgamento, exaurido física e mentalmente após horas falando ininterruptamente, apenas seu caráter o mantinha de pé.
Emociono-me sempre que vejo George Bailey retornar à sua casa e ternamente beijar o puxador quebrado da escada, que antes simbolizava a decadência de seu estilo de vida. Sendo bastante sincero, basta lembrar de James Stewart para sentir uma saudade extrema de uma época que não vivi, época em que pessoas como ele conseguiam impor sua presença em um mundo mais ético e elegante.
Parabéns, Jimmy! Eterno será, enquanto houver artistas trabalhando, guiados pela apaixonante devoção por justiça.
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"...ambos arriscam-se a perder sua sanidade, mas não admitem que seus valores tombem ou sequer se curvem perante o que consideram errado." (ISSO poderia representar todo o caráter que Stewart passava como ator).
James realmente merece ser sempre lembrado!