Críticas

“A Noite do Demônio”, de Jacques Tourneur

A Noite do Demônio (Night of the Demon – 1957)

Uma série de estranhos falecimentos acontece quando um psicólogo americano viaja para um congresso em Londres, para desmascarar o líder de uma seita demoníaca.

Existem poucos filmes realmente bons que tratem especificamente de seitas satânicas, um tema que normalmente se equilibra na linha tênue entre o risível e o exagero. Eu gosto muito de “As Bodas de Satã”, dos estúdios Hammer, mas nenhum foi mais eficiente nas sutilezas que o diretor francês Jacques Tourneur.

Claro que destoa a tola imposição dos produtores, exibindo em toda glória no terceiro ato o demônio como um monstro de seriados japoneses (chegaram a cogitar entregar o trabalho nas mãos de Ray Harryhausen), mas isto não desvaloriza toda a impecável construção de suspense que o roteiro de Charles Bennett, parceiro do Hitchcock da fase inicial britânica, executa desde o início.

O personagem vivido por Niall MacGinnis, o líder do culto, é mostrado de forma radicalmente oposta à caricatura usual, sendo apresentado como um afável filhinho da mamãe, amigo das crianças do vilarejo, que costuma entretê-las com mágicas inofensivas. Ao colocá-lo mais próximo dos corações dos inocentes, o roteiro cria um agente do mal muito mais inteligente e ameaçador.

Ele também subverte o conceito geral das obras do gênero, que sempre ligam a presença do mal à escuridão da noite, inserindo uma tempestade em plena luz do dia, como uma simples exibição dos poderes do Dr. Julian (MacGinnis) a um perplexo Dana Andrews, que mesmo vivendo um período difícil em que se refugiava frequentemente no álcool, atua com segurança e representa muito bem o eterno conflito entre a racionalidade cética e as superstições sobrenaturais. É possível perceber a influência desta cena em obras posteriores no tema, como o excelente “A Profecia”, de Richard Donner, além de “Os Pássaros”, de Hitchcock.

O ponto alto do filme está na questão que ele propõe ao final, fazendo-nos considerar a possibilidade de que exista uma realidade desconhecida que não desrespeite as leis da racionalidade, algo sombrio que simplesmente não possa ainda ser codificado pelo cérebro humano.

* Você encontra o filme em DVD e, claro, garimpando na internet.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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