Bola de Fogo (Ball of Fire – 1941)
Uma parceria entre Billy Wilder, no roteiro, escrito com Charles Brackett, e Howard Hawks, na direção, só poderia resultar em algo fantástico.
Um dos pedidos de Wilder, que estava se preparando para iniciar seu ciclo como diretor, foi poder acompanhar todas as gravações, para que pudesse absorver o máximo de aprendizado possível. E, ainda que o próprio tenha sempre afirmado sua admiração por Ernst Lubitsch, vejo claramente em seus trabalhos iniciais uma inspiração maior no estilo de Hawks.
A inspiração veio da “Branca de Neve” adaptada na animação da Disney. Os professores se portam como os anões, com direito a caricatos gestos e trejeitos, além de se posicionarem sempre juntos nas cenas. Já o lacônico Gary Cooper exercita seu talento como um professor de linguística, numa óbvia piada interna, brincando com a fragilidade de seu personagem, deixando a voluptuosidade de Barbara Stanwyck dominar cada frame.
Vale destacar a fantástica cena dela no clube noturno, ao som de “Drum Boogie”, cantado por Martha Tilton, com a lenda da bateria Gene Krupa. Interessante perceber como Gregg Toland, o gênio por trás da fotografia de “Cidadão Kane” e “A Longa Viagem de Volta”, resolveu a bela cena em que apenas os olhos de Stanwyck se destacam no escuro onde sua personagem se esconde. Toland pintou o rosto dela de preto, um truque bastante eficiente.
O contraste metafórico entre o controle rígido do personagem de Cooper, que vive desconectado do mundo real, e a liberdade criativa de Stanwyck, com o sugestivo nome: “Sugarpuss”, é o leitmotiv, simbolizado pela definição dada pelo professor para as gírias: “a língua que tira o casaco, cospe nas mãos e pega no batente”. No intuito de conhecer este universo, ele terá que se afastar do conforto ideológico que recebe dos vários livros amontoados em seu ambiente.
Um tema atemporal, com o usual refinamento cômico dos diálogos criados por Wilder, “Bola de Fogo” é uma das melhores screwball comedies de sua época.
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