Uma Galinha no Vento (Kaze no Naka no Mendori – 1948)
Passando por dificuldades e com o filho doente, Tokiko se prostitui por uma noite para poder pagar as despesas enquanto Shuichi, seu marido, está lutando no front.
Yasujiro Ozu demonstra que estamos testemunhando uma alegoria poética, já evidenciando desde a primeira cena a importância do cenário do Japão derrotado durante a ocupação americana, simbolizado pela favela industrial onde habita com dificuldade a jovem protagonista Tokiko (Kinuyo Tanaka) e seu filho pequeno, aguardando com esperança o retorno de seu marido (Shuji Sano), enquanto sobrevive da generosidade dos amigos.
Ela acaba agindo impulsivamente, indo contra todos os seus princípios, procurando a prostituição como forma de conseguir pagar o tratamento do filho doente. A jovem, como o Japão em guerra, perde a pureza. Ozu utiliza na execução da metáfora alguns artifícios incomuns em sua filmografia, como a violência, na forte cena em que o marido revoltado empurra a esposa, que rola escada abaixo. O interesse/foco narrativo está no esforço dela em se manter de pé, lutando contra a perna machucada, mostrando-se enfim resiliente aos olhos dele.
O caminho mais fácil seria ela continuar deitada, implorando humilhada a pena dos outros, mas dessa vez ela irá resistir, aceitando o erro e aprendendo com a experiência, assim como a sociedade japonesa que estava se reconstruindo das cinzas.
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