Sabrina (1954)
Sabrina (Audrey Hepburn) é a filha de um motorista de família rica. Ao se apaixonar por David (William Holden), filho mais novo da família, decide ir para Paris para esquecê-lo e lá se torna uma mulher deslumbrante. Ao voltar, acaba sendo disputada pelo rapaz e por seu irmão mais velho (Humphrey Bogart).
Após muitos anos eu tive o prazer de rever o filme e fiquei feliz ao constatar que ele continua tão agradável quanto em minha memória. Incrível como os cento e dez minutos passam rápido, com o fantástico roteiro de Billy Wilder compondo uma realidade que eu gostaria de continuar vivenciando por mais algumas horas, sem olhar para o relógio. Como desviar os olhos de Audrey Hepburn, uma das mulheres mais charmosas que o cinema apresentou ao mundo?
A belga, mesmo interpretando inicialmente uma jovem simplória, exalava refinamento pelos poros. O tipo de mulher que mostrava no olhar a cultura que priorizava, ainda que soubesse valorizar o supérfluo elegante. Ela era irresistível, o que torna a química entre ela, William Holden e Humphrey Bogart, ainda mais interessante.
E é interessante descobrir que nos bastidores, diferente de Holden, que ficou apaixonado por ela, Bogart não gostou tanto da experiência, reclamando de praticamente tudo e afirmando que ela era lenta em cena, numa possível demonstração de despeito, já que ele preferia contracenar com sua esposa Lauren Bacall. Ele acabou entrando no projeto de última hora, em um papel que seria de Cary Grant.
“A vida é como uma limousine. Tem o banco da frente e o banco de trás, mas uma janela entre eles.”
A filha do motorista, que se escondia nos galhos de uma árvore para poder se sentir parte, por alguns minutos, das festas refinadas dos patrões do pai, acaba tendo que se isolar em outra cultura.
Ao voltar de Paris, ela não somente passa a ser notada, como desejada intensamente pelo homem que ela sempre acreditou amar. O beijo roubado quando criança, numa época em que as classes sociais felizmente não representam nada, foi o elemento que conduziu os sonhos românticos da menina.
A forma como o roteiro trabalha o limbo social em que reside Sabrina, “que não pertence a uma mansão, tampouco em uma garagem”, dá margem para que Wilder brinque com símbolos, como quando a jovem visita o escritório do sistemático Linus (Bogart), sentando-se em sua poltrona de trabalho e rodando como uma criança desafiando a autoridade do adulto.
Ela é exatamente a antítese do controle absoluto que o personagem gosta de exercer em todos os aspectos, sendo mostrado sempre na prática de seu ofício, mesmo durante uma animada festa em sua mansão.
Quando o roteiro mostra sua decepção ao constatar que o curso de culinária em Paris é regido como uma linha de produção, com os alunos sendo variações de máquinas que produzem um alimento padronizado, não é apenas um alívio cômico estratégico, mas uma forma de mostrar que aquela jovem não será moldada por qualquer interesse externo.
O impacto de alguém tão rebelde na vida de Linus é tremendo, sendo o ingrediente especial de sensibilidade feminina que o impedirá de ser absorvido irrecuperavelmente pela máquina industrial, numa analogia para o capitalismo, que, tendo a limousine como metáfora social, naturalmente depende de alguém no “banco da frente” conduzindo-o aos seus objetivos.
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Olá Octavio! Assisti os dois filmes e realmente, não tem como comparar o primeiro filme com a refilmagem de Sabrina, a interpretação de Audrey Hepburn, ela era irresistível... Humphrey Bogart com o seu charme inconfundível e particular e o belo William Holden são o máximo. E todos sobre a competente direção de Billy Wilder. Obrigada pelo belo texto, que fez com que eu, viajasse no tempo...