Críticas

“Os Invasores de Corpos”, de Philip Kaufman

Os Invasores de Corpos (Invasion of the Body Snatchers – 1978)

Este é um dos melhores exemplos de como uma refilmagem pode ser superior ao filme original, além de ser uma adaptação mais fiel ao livro que o originou, um clássico de Jack Finney.

A invasão alienígena, que tomava de assalto um vilarejo, transportada eficientemente para a cidade grande, modificando o foco da opressão claustrofóbica para a paranoia do anonimato, em que o individualismo parece se perder, conceito profético para os dias atuais, com a sociedade levada para o abate sem questionamento, cada vez mais padronizada e se olhando menos nos olhos.

O suspense é estabelecido com perfeição já em seu primeiro ato, com destaque para uma breve cena que muitos nem lembram, em que um padre, vivido por Robert Duvall, é visto se balançando junto às crianças em um parque, direcionando um olhar sombrio para a câmera. Você percebe que existe algo de muito esquisito ocorrendo naquele lugar.

O terceiro ato é aterrorizante, não dando tempo para o espectador respirar. Este foi o primeiro trabalho valoroso de Philip Kaufman na direção. Anos depois ele criaria, com George Lucas, o roteiro de “Os Caçadores da Arca Perdida”. Todos os elementos funcionam, da crítica social aos efeitos visuais, até o alívio cômico interpretado por Jeff Goldblum.

Don Siegel, o diretor do filme original de 1956, faz uma ponta como o motorista de táxi que conduz os personagens de Donald Sutherland e Brooke Adams. É interessante salientar a forma como o diretor utiliza a cor vermelha, como uma representação simbólica da perda de entusiasmo e do conformismo que sucedem à duplicação.

Outro detalhe interessante e que evidencia a inteligência criativa de Leonard Nimoy, a meia-luva que utiliza em apenas uma mão, foi decisão do próprio ator, buscando tornar seu personagem mais enigmático.

Os créditos finais são apresentados em tenebroso silêncio, aspecto que funcionou com a proposta, mas não foi algo pensado, um complemento perfeito para os arrepiantes momentos que o antecedem.

Ao contrário do desfecho acomodado da adaptação anterior, o público é brindado com uma cena genuinamente apavorante, satisfazendo plenamente o intelectual e o sensorial.

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Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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  • Tinha visto esse filme uma única vez na Globo há muito, muito tempo atrás, quase uns 40 anos. Revi este ano no canal TEM, que sempre nos brindes com estas pérolas do cinema. O problema é o horário em que eles passam, geralmente por volta das 2, 3 da madrugada...em alguns casos o canal reprise o mesmo filme às 22 hs, e foi numa dessas oportunidade que revi alguns clássicos, como Desejo de Matar, Dublê de Corpo etc.

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