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“Pietá”, de Kim Ki-duk

Pietá (Pieta – 2012)

A estética busca chocar o espectador, com farta utilização
de câmera tremida e enquadramentos bizarros, utilizando o zoom como se uma
criança tivesse roubado a câmera do pai. A trama pede este estilo? Com certeza,
não. A história é rasa e caberia em um bom curta-metragem. A gordura extra
consiste em cenas de gratuita violência ou repetições imagéticas típicas de
cineastas pseudo-cults, daqueles que se regozijam em indicar nos créditos
iniciais que este é seu projeto de número “x”.

O diretor Kim Ki-duk nos apresenta um estudo pretensioso sobre a
insensibilidade, física e moral. Para deixar bem clara sua tese, ele insere
duas cenas onde o protagonista e a mulher misteriosa que diz ser sua negligente
mãe, interrompem o fechar de uma porta com as mãos, sem denunciar qualquer
abalo emocional. Poderia se dizer que estas cenas representam obstáculos
psicológicos intransponíveis, mas na realidade não é nada tão profundo, apenas
duas pessoas que se mostram apáticas. Sentimento que é reforçado diversas
vezes, como no momento em que o jovem corta um pedaço de sua própria carne para
testar a mulher, fazendo-a comer. Sem sutileza, pois o diretor faz questão de
focar por segundos o sangue que escorre de sua perna. A polêmica cena de
estupro incestuoso, que causou revolta nos cinemas, não se mostra eficiente,
pois envolve dois personagens unidimensionais, mais vazios que um
“Hulk”. Poderiam ser efeitos em computação gráfica, que não faria
diferença alguma.

Gang-Do (Lee Jung-jin) estampa sempre em seu rosto uma frieza desumana,
elemento que complementa suas ações de forma óbvia. Ele abate os animais,
deixando suas vísceras molharem o chão, tornando-o escorregadio, antes de
consumi-los. Qual a razão? Além de ser uma pessoa muito pouco higiênica,
deve-se deixar bastante evidente sua natureza animalesca. Ele é mau, muito mau.
E a enigmática mulher? Ela é “enigmática”, então nada melhor que
colocá-la entoando uma bizarra canção de ninar, mesmo que em detrimento de
qualquer racionalidade ou propósito, pois ela afirma momentos depois que mal
teve tempo de vê-lo quando bebê, então como saberia sua canção favorita?

“Pietá” é visualmente interessante, venceu o “Leão de Ouro”
em Veneza, mas seu realizador não é corajoso como Lars Von Trier ou Gaspar Noé.
Um cineasta provocador? Analisando essa obra e as anteriores, acho que está
mais para um filho mimado querendo chamar a atenção de pais pouco atenciosos.
Ele atravessa pela casa quebrando vasos, com um sorriso no canto da boca, como
se aguardasse ansioso pela atenção que receberá ao ser repreendido.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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Octavio Caruso

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