Dirty Dancing – Ritmo Quente (Dirty Dancing – 1987)
É curioso perceber que a crítica especializada foi bastante hostil com o filme em sua estreia, o saudoso Roger Ebert chegou a dar cotação mínima, elogiando apenas a criatividade do título.
O fato é que, ainda hoje, ele ainda garante altos índices de audiência em suas frequentes exibições, fazendo parte da cultura pop, com suas cenas sendo representadas em festas de casamento ao redor do mundo.
Existe algo de especial nele que atrai pessoas de todas as classes sociais, algum elemento que faz com que o público se interesse em repetir diversas vezes a mesma experiência. Este fator mágico que evidencia a negação do cinema como equação matemática, em que o conceito subjetivo de perfeição pode comportar até mesmo uma soma de defeitos.
O diretor Emile Ardolino, que só alcançaria o gosto do público novamente cinco anos depois, com a comédia de Whoopi Goldberg: “Mudança de Hábito”, era especialista em documentários sobre o mundo da dança, tendo lutado para provar à roteirista Eleanor Bergstein que, mesmo sem um projeto de ficção no currículo, seria capaz de dirigir aquela obra, inspirada em eventos reais ocorridos na juventude da escritora.
A coreografia, essencial por ser parte da narrativa em um musical, foi elaborada por Kenny Ortega, discípulo de Gene Kelly.
A opção por dançarinos que soubessem atuar foi crucial no resultado final, fazendo com que nenhum momento soasse forçado, artificial. Por trás da trama aparentemente simples e usual nos chamados chick flicks, uma adolescente sempre colocada para escanteio e que encontra sua voz ao lado de um rapaz mais velho, existe um subtexto que poucos discutem.
Quando se analisa mais profundamente, costuma ser abordada a questão óbvia do feminismo, mas quase nunca é citada a referência ao livro “A Nascente”, de Ayn Rand. Uma cena muito rápida, em que o arrogante garçom que engravida a dançarina (Cynthia Rhodes), que considerava uma classe inferior, se recusa a ajudar, entregando o livro para Baby (Jennifer Grey), como sugestão de leitura, afirmando que “algumas pessoas importam, outras não”.
O livro celebra o Objetivismo, os esforços de gênios criativos que conduzem suas vidas focadas completamente nos seus objetivos profissionais.
A necessidade de precisar recusar ceder a qualquer impulso que tire o indivíduo de sua trilha, para que eventualmente obtenha sucesso pleno profissional e felicidade pessoal.
O garçom estava tomando de forma torta, equivocada, a filosofia do livro para defender seus atos, considerando-se uma versão do protagonista Howard Roark, já que até mesmo o ato criminoso deveria ser desculpado quando perpetrado por um indivíduo extraordinário.
A desorientada irmã de Baby, aquela a quem ele realmente intencionava sugerir o livro, deveria, em seu ponto de vista, encontrar identificação com as personagens femininas das páginas, perdoando seu impulso romântico e considerando-se privilegiada por ser desejada, mas Baby se ofende com a indicação literária, atacando-o agressivamente, ameaçando até causar sua demissão caso ele se aproximasse de sua irmã.
Este é o momento em que ela, sem ajuda de ninguém, existencialmente “sai do escanteio”, muito antes do clássico desfecho, em que é convocada por Johnny (Patrick Swayze) para o palco.
Ela já demonstra força de caráter desde o início, conquistando o respeito de Johnny com sua reação ao erro na primeira dança, quando estava se adaptando apressadamente a uma coreografia que pertencia a uma dançarina profissional, aquela que havia sido vítima, um tema que o filme aborda de forma corajosa para sua época.
Ao invés de colocar tudo a perder, ela improvisa um passo esquisito, mas funcional, sem medo da vergonha. Diferente do que muitos pensam ao terminar o filme, não se trata da história de uma patinha feia, Baby tinha consciência de que era um cisne desde o início.
A simbologia da clássica cena em que ele a levanta no ar é interpretada usualmente de forma equivocada. Não se trata do príncipe encantado que escolheu salvar a dama em apuros. Johnny é quem aprende e amadurece, sendo salvo e inspirado pela integridade de caráter da jovem. Ele a levanta no ar como forma simbólica de salientar a grandeza da personagem, acima de todos os comuns.
Ao final da dança, Swayze sublinha visivelmente emocionado o trecho da canção que explicita sua gratidão: “And i owe it all to you” (e eu devo tudo a você).
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