Sobrevivente (Djúpið – 2012)
Este belo filme islandês, baseado em um evento real, pende mais para a alegoria existencialista do recente “Até o Fim”, ou as metáforas de “As Aventuras de Pi”, do que para o espetáculo formulaico de “Náufrago” e seus similares.
O diretor Baltasar Kormákur não se interessa em estabelecer uma conexão emocional entre o espectador e o protagonista, um estranho cujo passado desconhecemos. O interesse está na reflexão que ele propõe, instigada por uma contemplação distante, não nas lágrimas que facilmente verteriam apenas com alguns acordes de violino.
O incrível ato de sobreviver por longas seis horas no gelo das águas do Atlântico Norte após o naufrágio do seu pesqueiro, filmado sem computação gráfica, quando todos os seus companheiros faleceram instantaneamente, faz com que Gulli, vivido brilhantemente por Ólafur Darri Ólafsson, como o Kaspar Hauser de Herzog, acabe se tornando um ser superior.
Por mais exasperante que seja o segundo ato, com a luta do homem comum contra as forças implacáveis da natureza, somente no terceiro ato é que compreendemos a mensagem que está sendo transmitida, com o retorno daquele guerreiro para sua vida ordinária em uma pequena comunidade. Ele a havia deixado como um desinteressante beberrão e inconsequente, mas estava sendo recebido agora como algo exótico que desafiava a ciência, um Übermensch Nietzschiano a ser estudado e celebrado pela imprensa, um herói nacional.
O sentimento de desajuste social, a timidez perante as câmeras, sua resiliência ao negar qualquer modificação pessoal causada pela tragédia, são elementos que demonstram a negação consciente do protagonista em ser transformado em um estereótipo de heroísmo por estranhos financeiramente interessados na eterna lembrança de sua desgraça. Ele viveu um momento ruim, mas isto não modificou sua essência, não fez com que ele se tornasse alguém mais interessante socialmente.
Como ele mesmo insinua em uma cena, ninguém realmente se importa com o que aconteceu, tudo não passa de uma estatística midiática para preencher temporariamente as páginas dos jornais com manchetes sensacionalistas.
Gulli nunca temeu a finitude e recusa a falsidade daqueles que se aproximam dele pelo herói que ele nunca foi, ele quer apenas ser esquecido pelos urubus sociais, voltar ao trabalho e ao convívio diário com seu cão.
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