Críticas

“Amantes Eternos”, de Jim Jarmusch, na AMAZON PRIME

Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive – 2013)

A história de amor e de reencontro entre Adam (Tom Hiddleston), um músico que está deprimido e cansado com o rumo que a sociedade tomou, e Eve (Tilda Swinton). O romance dos dois, que já dura séculos, é perturbado pela chegada de sua incontrolável irmã mais nova.

Chega a ser divertido imaginar a reação da garotada que for procurar este filme acreditando ser mais um na linha de produção industrial sobre vampiros, aliás, uma palavra que não é citada sequer uma vez.

Como o roteiro deixa transparecer em suas ricas referências literárias, estamos conhecendo os desiludidos pontos de vista de dois seres evoluídos sobre a mediocridade da sociedade contemporânea, formada por verdadeiros zumbis que, a despeito de seus brinquedos eletrônicos ultramodernos, continuam estúpidos nas questões que realmente importam, considerando mais importante em seu cotidiano as desventuras de personagens midiáticos medíocres que os impressionantes avanços da ciência.

A ideia de iniciar o filme com um vinil sendo operado em um antigo toca-discos salienta o desejo inconsciente de Adam, que remete visualmente e ideologicamente ao protagonista Sonho do Sandman, de Neil Gaiman, pelo resgate emocional de uma época menos fútil, mais romântica.

Como o Stephen Dedalus do escritor James Joyce, nome adotado em uma viagem de avião, ele é um solitário extremamente culto que aprecia a boa música, em busca eterna por entender a complexidade de sua existência. Como ele afirma debochadamente, coerentemente emoldurado por seu ambiente vintage, estes zumbis existenciais ainda implicam com Darwin, assim como os antepassados deles rejeitaram e demonizaram Copérnico, Galileu e Newton. Só as roupas e os cortes de cabelo mudaram.

Aqueles que poluem o mundo exterior à luz do dia continuam apegados às crenças que os colocam em guerra, fazendo-os odiarem outrem por motivos tolos, poluindo também o próprio organismo, infectando o sangue com estilos de vida desregrados.

Este elemento precioso degustado pelo casal noturno que parece nunca pentear os cabelos, como se brindassem à triste e irremediável extinção destes terráqueos incompetentes, imediatistas que não valorizam os esforços daqueles que ousaram confrontar o conformismo.

As “pessoas da sala de jantar”, como dizia a música dos Mutantes, que se preocupam apenas com a aparência/imagem, sendo analisados por um casal de amantes, “Adão e Eva”, que testemunharam várias páginas da História humana, atravessando séculos e culturas diferentes, surpresos com a constatação do quanto nós involuímos.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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