Rush – No Limite da Emoção (Rush – 2013)
O filme foca na rivalidade entre o playboy inglês James Hunt (Chris Hemsworth) e o metódico austríaco Niki Lauda (Daniel Brühl); o roteiro de Peter Morgan, retomando sua parceria com o diretor Ron Howard após o excelente “Frost/Nixon”, resgata a temporada de 1976.
Inteligente, não repete os erros de projetos similares do passado, utilizando a corrida de carros como uma analogia dos conflitos que todos nós podemos enfrentar. Os personagens são identificáveis e as cenas de ação realmente empolgam. O grande mérito nasceu de uma decisão nos primeiros rascunhos, quando Morgan acreditava que, caso o trabalho chegasse a ser filmado, seria com baixo orçamento, o que fez com que ele priorizasse o confronto que ocorria fora das pistas.
A lente intrusiva da fotografia de Anthony Dod Mantle resgata a elegância de uma década em que o esporte permitia a saudável competitividade e a inconsequência dos corredores; uma época em que a competência individual era o fator decisivo em uma vitória. A obra também marca o crepúsculo desta era gloriosa, simbolizada pelas atitudes bon vivant do mulherengo Hunt, colocando-o em contraste com a rígida disciplina de Lauda, que simboliza um esporte menos guiado pela emoção.
O confronto em cena entre estes dois pilotos com atitudes distintas resulta em momentos bastante engraçados, um alívio cômico na medida certa. Algumas liberdades tomadas, totalmente compreensíveis numa narrativa cinematográfica, como o encontro inicial dos dois na F3 e, especialmente, a agressão de Hunt contra o repórter que havia ofendido Lauda, comprovam a esperteza do roteiro.
A ótima trilha sonora de Hans Zimmer evidencia cada derrapagem e batida como se estivesse emoldurando uma guerra, o que garante o peso emocional necessário, fazendo até mesmo o espectador menos interessado em Fórmula Um se contorcer na poltrona e se emocionar com a trama.
Quando somos conduzidos ao momento de maior resiliência de Lauda, retornando às corridas após seu acidente, somos levados a colocar em dúvida os estereótipos, sem nunca limitar os personagens ao cômodo viés: herói/vilão, como equivocadamente fez o documentário “Senna”. A mensagem, ainda que exposta sem nenhuma sutileza, desnecessariamente, no monólogo de desfecho, é de grande beleza e atemporal. O desafio é o elemento que nos estimula a superar nossas limitações.
Muitos saudosistas afirmam que não houve melhor projeto sobre o tema que “Grand Prix”, de 1966, mas provavelmente ignoram que, com exceção das pioneiras cenas de corrida, a trama era um excelente sonífero. Steve McQueen protagonizaria o superior, ainda que pouco lembrado, “As 24 Horas de Le Mans”, em 1971, mas me arrisco a dizer que este é o melhor projeto a abordar o esporte.
Competente como espetáculo, eficiente como cinebiografia e corajoso como estudo de personagens.
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