O Teorema Zero (The Zero Theorem – 2013)
O eterno Monty Python Terry Gilliam retorna à boa forma de
“Os 12 Macacos” e “Brazil”, exercitando seu estilo visual característico, mas
com senso de humor reduzido. Uma jornada mais pessoal, onde ele, assim como o
personagem, no início do filme, encara o vácuo em busca de respostas. Ele
utiliza o talento de Christoph Waltz, totalmente careca e, pela primeira vez,
como protagonista, para compor sua fábula distópica sobre paranoia
institucional. Um hacker cuja existência se limita a trabalhar sem descanso
para sua empresa, mas que anseia apenas poder se afastar ainda mais da
sociedade, trabalhando em casa. Sendo muito competente, a empresa recompensa-o
com seu desejo, porém ele precisa obrigatoriamente encontrar o Teorema Zero,
uma equação que comprova que o universo é vazio e que todos nós rumamos
inexoravelmente para o filosófico “nada”.
O maior problema do filme é que o roteiro do estreante Pat Rushin falha ao não
se impor de igual perante as invencionices visuais do diretor, como a frequente
utilização das lentes grande angulares, nunca aprofundando as críticas além da
satisfação fonética mecânica pela repetição, como a gag ideologicamente pouco
sutil que envolve o protagonista sempre se referir a si próprio no plural.
Enquanto isso, algumas ideias mais elaboradas, como a câmera de segurança que é
posicionada no lugar da cabeça de Jesus em um crucifixo, poderiam resultar mais
contundentes. É agradável encontrar essa coragem nos diálogos, que podem não
ser fluidos, mas eles estão inseridos com o único intuito de provocar o
espectador, estimulá-lo à reflexão após um breve sorriso. Em um de seus
melhores momentos, numa festa onde os presentes não conseguem tirar os olhos de
seus celulares, Gilliam consegue realizar uma crítica comportamental muito similar
à de Spike Jonze em “Ela”, uma obra que poderia muito bem ser complementar a
essa experiência.
Essencialmente, por trás de toda a perfumaria sci-fi proposta no roteiro,
trata-se de um simples confronto entre a razão/ceticismo, simbolizada
claramente em uma cena com Matt Damon no terceiro ato, e a fé/religiosidade,
simbolizada pelo telefonema que ele aguarda de uma divindade que sabe todas as
respostas. Quando era mais jovem, ao lado de seus colegas ingleses, Gilliam
debochava da necessidade de um sentido para a existência nos ótimos esquetes de
“The Meaning of Life”, mas dessa vez encontramos um homem no crepúsculo de sua
vida, com a mesma verve irônica maravilhosa, mas perceptivelmente perturbado
pelo tema. O resultado final me resgatou boas lembranças do desfecho de “Hannah
e Suas Irmãs”, onde o personagem de Woody Allen abraça a finitude com um olhar
de fascínio exploratório, aceitando a beleza que se esconde nos detalhes. O
personagem de Gilliam não sorri com os “Irmãos Marx”, mas parece entender que existe
graça, ainda que melancólica, no caos.
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