Críticas

“Pacto Tenebroso”, de Douglas Sirk

Pacto Tenebroso (Sleep, My Love – 1948)

Uma mulher acorda num trem sem se lembrar de como foi parar lá. A partir daí, vários fatos em sua vida a levam a crer que está ficando louca.

Produzida por Mary Pickford, com o diferencial no gênero de ter uma heroína, vivida por Claudette Colbert, esse é um ótimo representante da fase inicial em Hollywood do diretor alemão Douglas Sirk, com a elegante fotografia que usa generosamente a profundidade de campo, de Joseph A. Valentine, de clássicos de Hitchcock como “A Sombra de Uma Dúvida” e “Festim Diabólico”, em sua última incursão no Noir. Assim como em “À Meia Luz”, de George Cukor, o roteiro aborda uma esposa que é manipulada psicologicamente pelo marido, o sempre eficiente Don Ameche, que intenciona se livrar dela e colocar outra mulher em seu lugar, a femme fatale vivida pela bela Hazel Brooks.

Os elementos de hipnose podem ter ficado ingenuamente datados, assim como a recusa da trama, por causa da censura do Código Hays, em permitir maior afeto entre a esposa e o personagem vivido por Robert Cummings, mas nada que prejudique o entretenimento. É válido salientar a eficiência, ainda hoje, da ótima cena em que a protagonista, em estado hipnótico, é levada a subir no parapeito da varanda. E, um detalhe interessante, vale a pena prestar atenção nas cenas em que Ameche e Brooks aparecem juntos, com ele sempre sendo mostrado no enquadramento de forma subserviente.

O uso da escadaria, quase uma referência a Fritz Lang, num dos momentos mais intensos do terceiro ato, também merece destaque. Durante várias cenas de suspense na residência da vítima, o filme parece confundir deliberadamente os limites de interior e exterior. A porta da frente é deixada aberta durante uma tempestade, conduzindo o público a uma forte sensação de ansiedade. Sirk corta para um ângulo alto da escadaria nessa cena, mostrando-nos o interior da casa e o exterior, através da porta.

O diretor é capaz de interromper o crescendo de suspense, desviando o foco para uma subtrama de um casamento chinês, como forma de surpreender o espectador com um alívio cômico que, de tão deslocado, eleva a sensação de pesadelo que compartilhamos com a protagonista. Um exemplo de que, já em seu início, Douglas Sirk exercitava seu estilo com muita segurança.

* Adquira o filme em DVD na loja virtual da distribuidora Classicline, AQUI.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

View Comments

Recent Posts

PÉROLAS que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

15 horas ago

Dica do DTC – “Os Alegres Subterrâneos de Paris”, de Pierre Tchernia

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

4 dias ago

ÓTIMOS filmes que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

5 dias ago

Dica do DTC – “Os Comendadores”, de Francis Veber

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

5 dias ago

6 FILMAÇOS que utilizam a CRONOLOGIA REVERSA

O conceito de contar uma história do final para o começo, quando não soa gratuito,…

6 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

1 semana ago