Críticas

Rebobinando o VHS – “Keruak – O Exterminador de Aço”, de Sergio Martino

Quando eu me lembro das circunstâncias de meu primeiro encontro com esse filme, não consigo evitar rir da malandragem saudável cometida pelo SBT. Só depois é que fui rever essa pérola, dirigida por Sergio Martino, em VHS distribuído pela America Vídeo.

A chamada que passava nos intervalos prometia a continuação de “O Exterminador do Futuro”, inserindo até cenas dele, não era nada sutil, fazia realmente pensar que a trama desta picareta produção paupérrima italiana dava sequência aos acontecimentos do clássico filme de James Cameron. Numa época sem internet, em que as informações sobre os filmes eram escassas, praticamente inexistentes, ficávamos no escuro.

Keruak – O Exterminador de Aço (Vendetta dal Futuro – 1986)

Como eu, já naquela época, era sistemático, fiz questão de alugar o clássico e rever, antes do dia que estava marcado para a exibição da continuação. Eu queria que a trama estivesse fresca na mente, para que pudesse absorver melhor aquele excelente entretenimento que o narrador da chamada vendia.

Aquela era uma exibição noturna, acredito que tenha sido na Sessão das Dez, que passava aos domingos, o que complicava sempre o ato de acordar cedo para a escola no dia seguinte.

Lá estava eu, com um copo cheio de refrigerante, para me manter acordado, e a cara grudada na televisão de 16 polegadas. Já nas primeiras cenas, uma montagem urbana esquisita num futuro não muito distante, com moradores de rua e fábricas expelindo gases tóxicos, filmados de forma estranhamente rústica, nada parecido com o padrão de direção de fotografia do clássico de Cameron.

Quero salientar que mesmo sendo totalmente ignorante nesses aspectos técnicos à época, com olhos de criança, eu já considerava estranha essa diferença entre dois projetos que acreditava serem irmãos.

No ambiente de caos, genericamente pós-apocalíptico, o herói vivido pelo inexpressivo Daniel Greene, Paco Queruak, que outrora havia sido humano, é contratado por uma organização, com a tarefa de eliminar o chefe de uma equipe de ecologistas. O comandante da organização é vivido por John Saxon, que quase bateu as botas nas filmagens, já que estaria no mesmo helicóptero que caiu com o colega de cena: Claudio Cassinelli. Uma tragédia que atormenta o diretor até hoje.

Como o posterior “Robocop”, de Paul Verhoeven, o cyborg é impedido, na hora de executar o serviço, por um bloqueio em seu disco rígido, o que conduziria, em teoria, à discussão sobre a possibilidade de existir ainda vestígios de sua consciência humana em sua memória robótica.

O caso é que o fraco roteiro não se importa em se aprofundar na questão, com subtramas dispensáveis criadas, ao que parece, apenas para alongar a duração da fita. A minha testa se manteve franzida durante boa parte da transmissão, sentia que algo não encaixava naquilo tudo. Em dado momento, um breve alívio, uma cena em que o herói cyborg expõe as engrenagens de seu braço biônico, finalmente algo que me remetia visualmente à pérola de James Cameron.

Anos depois, fiquei sabendo que aquela cena, visivelmente melhor produzida que o restante do filme, apenas se tratava de um trecho descartado do filme norte-americano, o inesquecível momento em que Schwarzenegger exibe a estrutura mecânica que movimenta seus dedos, uma tomada não utilizada no corte final, comprada pelos italianos e inserida na produção.

O importante é que, mesmo sendo um filme ruim, adoro rever pela nostalgia de uma época mais tranquila.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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