Quem acompanha meu trabalho sabe que sou apaixonado pelos gêneros usualmente subestimados pelos colegas críticos, como terror, faroeste e artes marciais/samurai. Gosto muito dos filmes de Mario Bava, Hideo Gosha, Monte Hellman, Chang Cheh, Dario Argento, Lao Kar-leung, Lucio Fulci e Masaki Kobayashi.
Sem pensar duas vezes, atendo-me a apenas dois nomes mitificados pela crítica, trocaria qualquer experimentação morosa do Godard pós-década de 70, ou do Terrence Malick pós-“Days of Heaven”, por um dos filmes destes diretores que citei anteriormente. Gosto de encontrar o refinamento onde menos se espera, ao procurar o traço autoral de diretores tidos como cartas fora do baralho.
É fácil filmar uma árvore se balançando ao vento por minutos, alguém sempre irá enxergar a arte na forma como uma folha cai do galho, o abstrato é um terreno fértil, você decide a imagem que quer visualizar em uma nuvem, mas é muito difícil trabalhar objetivamente as cores como fez Bava. Em um mundo justo, ele seria tão reconhecido e respeitado quanto Hitchcock.
Uma das gratas surpresas que tive recentemente foi encontrar em seu filme “O Planeta dos Vampiros”, de 1965, uma possível forte inspiração para a trama do clássico “Alien – O Oitavo Passageiro”, de Ridley Scott. Martin Scorsese bebeu da fonte do diretor italiano para tornar sua refilmagem de “Círculo do Medo”, o ótimo “Cabo do Medo”, um projeto com marcante identidade visual própria, afastando-se do original inferior de J. Lee Thompson. Acho fascinante procurar essas conexões inusitadas, em que a cópia é celebrada, enquanto o copiado é marginalizado.
É impressionante o que o diretor Jackie Chan consegue fazer em seus filmes, especialmente os de sua fase áurea, não dá para ignorar o valor dele, enquanto tanto barulho se faz sobre o brilhantismo de Paul Greengrass. Existe um preconceito latente que precisa ser destruído pela crítica. O britânico é celebrado por tremer sua câmera nas cenas de ação, mas Chan, usualmente alvo do deboche dos intelectuais, desafiava constantemente a lei da gravidade.
Ninguém consegue imitar o que ele fazia em seu auge como diretor. Como emular o carisma de Bruce Lee ou ignorar seu timing cômico, como diretor, em “O Vôo do Dragão”? Ninguém comenta sobre o uso da música nos filmes de Argento, mas, caso americano fosse, ele seria tido hoje como um gênio. “Profondo Rosso” é uma aula de construção de suspense e desconstrução das expectativas.
Quando eu era mais novo, antes de trabalhar na área, ficava entrando em contato com as distribuidoras que lançavam filmes clássicos de gênero, sugerindo possíveis lançamentos. Como era quase impossível encontrar estas preciosidades, eu ficava em estado de choque quando entrava em uma locadora de vídeo que tivesse raridades. Uma vez fiz minha mãe voltar para casa, alguns bairros de distância, apenas para pegar o comprovante de residência, para que eu pudesse alugar o raro “Terror nas Trevas”, de Fulci, de um selo de VHS carioca, mais raro ainda, chamado “Dado Group”.
Em breve, este espetacular filme será lançado, com o refinamento usual, pela distribuidora “Versátil”, numa caixa contendo outros clássicos do gênero. Aliás, vale destacar novamente o belo trabalho dessa distribuidora em resgatar importantes tesouros do cinema samurai e de terror. Sonho em ter toda a filmografia de Bava e Argento na estante.
Antes da “Versátil”, teve a “Works/London Films”, com seu selo “Dark Side”, que era vendido nas bancas de jornal. Como era emocionante ser adolescente naquela época, sair de casa para comprar religiosamente a Revista SET, dar de cara com “Zombie – O Despertar dos Mortos”, de Romero, em DVD, formato que dava seus primeiros passos, por inacreditáveis 19 Reais. O coração chegava a bater mais rápido, uma sensação que a garotada de hoje não conhece, já que tudo se encontra facilmente em um clique do mouse.
Tenho até hoje “Expresso do Horror”, “Os Olhos da Cidade são Meus”, “O Homem de Palha”, “Possessão”, “Suspiria”, “A Sentinela dos Malditos”, “Fome Animal”, “O Castelo Maldito”, entre outras raridades lançadas pelo selo. Alguns eu conhecia do meu garimpo na época do VHS, mas nunca imaginei que seriam lançados por aqui em mídia física.
Colocar para rodar no aparelho estes títulos, ainda hoje, traz em minha mente a nostalgia daquelas tardes inesquecíveis na década de 90, vendo o Zé do Caixão em seu “Cine Trash”, que era transmitido pela Rede Bandeirantes.
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