O Jogo da Imitação (The Imitation Game – 2014)
Em 1939, a recém-criada agência de inteligência britânica MI6 recruta Alan Turing, um aluno da Universidade de Cambridge, para entender códigos nazistas, incluindo o “Enigma”, que criptógrafos acreditavam ser inquebrável. A equipe de Turing, incluindo Joan Clarke, analisa as mensagens de “Enigma”, enquanto ele constrói uma máquina para decifrá-las. Após desvendar as codificações, Turing se torna herói.
Com o filme recebendo maior atenção por causa de suas indicações no Oscar, acho válido ressaltar a importância do nome Harvey Weinstein nessa equação. Sem os usuais trambiques do produtor nas campanhas de bastidores, essa produção receberia a atenção comum de um bom drama biográfico, defendido por uma atuação correta de Benedict Cumberbatch, com mais características de comportado telefilme, apenas isso. É compreensível essa condução esquemática, já que o diretor Morten Tyldum tem muita experiência em projetos televisivos.
O roteiro, ponto mais deficiente, é escrito por Graham Moore, que tem no breve currículo o curta “Piratas Vs. Ninjas”. Não há nada na execução que estimule o interesse, uma trama não se sustenta sozinha, ainda mais quando a estrutura convencional apela para todos os clichês estabelecidos em produções baseadas em histórias reais.
O espectador atencioso antecipa cada solução, como na apresentação da personagem de Keira Knightley. A única mulher na turma, que chega atrasada e, com todo o elenco abusando dos diálogos expositivos, vira alvo do preconceito dos rapazes, para que, minutos depois, ela surpreenda a todos sendo a mais eficiente. Ao invés de tornar os personagens críveis, com sólidas motivações, o roteiro os trabalha como caricaturas, soltando frases de efeito de livro de autoajuda.
O símbolo dessa deficiência é a repetição tola do mantra sobre as pessoas que fazem coisas que ninguém consegue imaginar, com poucos minutos de diferença, subestimando tremendamente a inteligência e a memória do espectador. E, para piorar, em ambos os momentos servem como moldura de situações completamente demagógicas, ativando o sensor do piegas. Este elemento soa deslocado em uma trama adulta, assim como alguns alívios cômicos bobinhos.
Um momento de revelação importante, em que as peças no tabuleiro encontram o estímulo para a difícil tarefa, perde toda a carga emocional ao ser desviado para uma reação debochada da personagem de Knightley, como se estivéssemos assistindo uma produção voltada para o público infanto-juvenil.
A opção pela narrativa não-linear, por incompetência do roteiro, ajuda a confundir e acaba atrapalhando ainda mais a conexão emocional com a trama e com os personagens. Aos quarenta minutos, a sensação de cansaço convida à sempre temida checagem das horas, quando, como em todo início de segundo ato, deveríamos já estar salivando pelo desenvolvimento dos conflitos apresentados.
Quando acreditava que Moore já tinha riscado todos os clichês do manual, somos apresentados a uma desastrada cena em flashback, mostrando o jovem protagonista, obviamente compenetrado em um livro sobre códigos, enquanto descansa à sombra de uma árvore, recebendo de um amigo a clássica frase piegas de encorajamento: “Tenho a sensação de que você será muito bom nisso”. É como se o roteiro tivesse pressa de chegar ao terceiro ato, arrumando soluções rápidas e preguiçosas para todos os obstáculos que encontra.
Ele usa até aquele artifício típico das séries americanas da década de 80, quando, no intuito de injetar algum senso de aventura, ainda que apenas evidencie o aspecto farsesco, ótimo em comédias, péssimo em dramas, eles colocam o protagonista para escalar um muro e entrar pela janela de uma pessoa durante a madrugada. Não importa que essa atitude desrespeite a construção do personagem, que soe absurdamente forçada.
Caso levemos em consideração a riqueza da trama que aborda, faltou coragem à produção. O conceito de uma boa cinebiografia consiste em nos deixar, ao final da sessão, com um entendimento maior sobre a personalidade do objeto de análise, suas falhas e dilemas internos, não passar mais verniz ainda na imagem estereotipada dele.
O Alan Turing que o filme apresenta, apesar dos esforços de Cumberbatch, fazendo o possível com os fracos diálogos que precisou memorizar, não passa de uma elegante caricatura.
Saudade de quando o cinema fazia cinebiografias para adultos, como “Amadeus” e “Gandhi”. “O Jogo da Imitação”, caso fosse um aluno numa prova de matemática, passaria raspando.
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