Toda Terça-Feira (52 Tuesdays – 2013)
O conceito por trás do filme é melhor que o resultado final,
tendo sido filmado apenas nas Terças-Feiras de um ano, com a temática sendo
escolhida após essa decisão e os roteiros de cada dia de filmagem sendo
elaborados na semana anterior. Essa experimentação é perceptível na forma
desequilibrada que a trama se desenvolve, com lacunas de desenvolvimento
narrativo nascendo de um interesse maior em causar choque e chamar atenção pela
estética, mais do que pela substância.
A ideia de narrar os reencontros semanais de uma filha
adolescente com sua mãe, que acaba de sofrer uma operação de mudança de sexo,
tinha tudo para ser, no mínimo, interessante, mas a diretora australiana Sophie
Hyde derrapa em alguns aspectos importantes nesse seu primeiro longa-metragem,
como o contraste de qualidade entre o nível de atuação do restante do elenco e
o dos protagonistas, Tilda Cobram-Hervey e, especialmente, Del Herbert-Jane,
que é um transgênero real. Também é problemática a função do personagem do pai,
vivido por Beau Travis Williams, no arrastado terceiro ato, potencializando
ainda mais a pegada panfletária do projeto.
Mas o principal equívoco reside na repetição exagerada,
praticamente didática, do leitmotiv que une mãe e filha na mesma rota de
evolução existencial, batendo pesado na tecla de que ambas estão se tornando
versões mais autênticas de si próprias. A sutileza, nesse caso, teria sido
muito mais eficiente.
Ao Seu Lado (Next To Her – 2014)
O diretor israelense Asaf Korman, em seu primeiro longa-metragem,
desenvolve com segurança os personagens desse intenso e sombrio drama
claustrofóbico sobre uma mulher que cuida de sua irmã com problemas mentais,
uma espetacular interpretação de Dana Ivgy, uma atriz que eu não conhecia, mas
farei questão de assistir seus outros trabalhos. O roteiro, escrito em parceria
com a esposa Livon Ben Shlush, que interpreta a protagonista, é inspirado na
experiência da própria com sua irmã. Ao rejeitar a ideia de colocar a irmã em
um asilo, ela acaba exercitando inconscientemente uma dominação física e
mental, deixando a jovem presa sozinha em seu apartamento, enquanto está
trabalhando.
Em alguns momentos, senti sutis referências no tom a “Gêmeos – Mórbida
Semelhança”, de Cronenberg, e até ao clássico “O que Terá Acontecido a Baby
Jane”, de Aldrich, enquanto vamos percebendo o desmoronamento psicológico da
garota que vive apenas pela irmã mais nova, passando a sentir uma crescente
necessidade de extravasar a angústia com o primeiro homem que demonstra algum
interesse, o professor de educação física Zohar, que inicialmente parece trazer
equilíbrio na relação das duas, mas ele se mostra muito mais permissivo e
carinhoso ao cuidar da garota, o que faz destravar em sua namorada o “gatilho”
emocional de uma mente perturbada.
O diretor trabalha visualmente essa gradual evolução obsessiva das duas,
mostrando elas compartilhando escovas de dente ou simplesmente juntas numa
banheira, com as pernas cruzadas, como se fossem uma única pessoa.
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