A Dama Fantasma (Phantom Lady – 1944)
O projeto do alemão Robert Siodmak, baseado na obra de Cornell Woolrich, envolve o espectador em um clima sombrio de pesadelo, mérito da fotografia de Elwood Bredell, que faria, dois anos depois, com o diretor, o excelente: “Assassinos”. A trama simplista, como em todo Noir, serve apenas como motivação básica para o criativo exercício de estilo, enfrentando o baixo orçamento apostando no poder da sugestão.
O personagem, vivido por Alan Curtis, encontra uma enigmática mulher enquanto tenta afogar as mágoas no bar, após uma briga com a esposa. O desejo dela é que a ignorância se mantenha sobre a identidade de ambos, estranhos solitários na noite de um dia qualquer.
Ela aceita o convite dele, a companhia despretensiosa em um espetáculo que desperta o único interesse de desviar a atenção dele, por algumas horas, acerca dos problemas conjugais. A despedida é comum, fugaz, estabelecendo com eficácia a tensão que invade as cenas seguintes. Ao voltar para casa, três homens o aguardam, há a esperta sugestão de que são perigosos, confundindo o público, e, no quarto, ele descobre o corpo da esposa estrangulada.
Os detalhes visuais são preciosos, como a escultura das mãos no alto do armário de um dos personagens, elemento recorrente, capaz dos atos mais carinhosos, como o afagar de um bebê, o salvamento de um afogado, porém, capaz de cometer também as maiores atrocidades. A imprensa destrói o nome do marido, numa crítica à irresponsabilidade do jornalismo enquanto juiz e condutor do linchamento público.
Vale destacar a ótima cena, com forte conotação sexual, mostrando o encontro da bela Ella Raines, uma personagem que me remeteu à de Margaret Tallichet em “O Homem dos Olhos Esbugalhados”, com o baterista, vivido por Elisha Cook Jr., em uma confinada jam session de Jazz.
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