Quem era criança no lançamento do primeiro, com certeza, vai se lembrar com carinho do fenômeno que invadiu o Brasil. Em qualquer lugar que você entrava, tinha alguma coisa relacionada a dinossauros. Um fascínio compreensível, estes animais representam o fantástico tangível, cuja existência se pode provar em escavações.
Nas bancas de jornal, fascículos sobre paleontologia, com esqueletos de plástico para você montar um Tiranossauro Rex que brilhava no escuro; nos Shopping Centers, exposições com dinossauros em tamanho real, que se moviam; na televisão, os programas no horário nobre despejavam reportagens sobre os monstros que conquistaram o planeta.
Eu tinha nove anos de idade, consigo sentir o aroma das pipocas sendo preparadas naquela tarde, enquanto aguardava com minha mãe na longa fila que dobrava a esquina do Cine Carioca, na Praça Sáenz Peña (RJ).
O filme já estava em cartaz há algumas semanas, o sucesso de público diariamente divulgado na televisão, a expectativa era gigantesca. A minha mãe só conseguiu comprar ingressos para a sessão legendada, o que não me incomodou, nada justificaria o adiamento daquele momento, eu estava acostumado a ver em VHS os clássicos preto e branco legendados.
É impressionante como conseguimos esquecer tanta coisa, porém, certas passagens seguem vivas em nossa mente, como se pudéssemos, num passe de mágica, retornar àquele local, reviver a situação.
Atrás do pipoqueiro, as pessoas caminhavam rapidamente na calçada, por vezes, olhavam com estranheza para aquele grupo de cinéfilos que aguardava ansiosamente a hora de entrar na sessão.
Alguns metros atrás de mim, uma barraca improvisada vendia dinossauros de plástico, dos mais diversos, a preços exorbitantes. Pedi permissão à minha mãe para sair da fila e olhar aquele universo de brinquedos coloridos. Não tenho dúvida de que minha memória os torna mais bonitos do que eram na realidade.
Ao lado do elegante portão de entrada, um display com várias fotos do filme. Como era emocionante viajar naquelas imagens, ignorando totalmente a trama, tateando no escuro, imaginando sequências inteiras e nomes de personagens.
Todos na fila pareciam falar o mesmo assunto, havia um respeito que se perdeu hoje, uma dedicação verdadeira à experiência. A hora se aproximava, eu perguntava tanto para minha mãe se faltava muito, que ela passou a apenas mostrar o relógio de pulso.
Aquela sensação mágica de saber que, ao acabar a sessão, a noite já teria caído sobre a cidade, aquela parte enigmática do dia, em que o ar era mais fresco, e, quanta inocência, as crianças já deveriam estar em casa.
O vento trazia até nós o barulho das pessoas saindo da sessão anterior, ao fundo, dava pra escutar também a trilha sonora dos créditos finais. Faltava pouco tempo, e, sem exagero, os pelos dos braços arrepiavam, eu sempre me sentia assim nestes minutos finais de espera. A fila começou a andar, eu puxei o braço da minha mãe, cheguei a tropeçar na senhora que estava à minha frente.
Naquela época, antes mesmo do filme começar, estas preliminares já emocionavam. E então, como de costume, sem beber nada ou comer pipoca, com medo de desviar a atenção da tela grande, vi pela primeira vez “Jurassic Park”, de Steven Spielberg. Como esquecer aquela cena da revelação do imenso Braquiossauro?
Spielberg, como o mestre que é, soube como poucos estabelecer o suspense, prolongando ao máximo a expectativa, com a câmera que se aproxima de Sam Neill, captando seu choque, conduzindo sua mão até o rosto de Laura Dern, virando-o na direção do animal.
Aos olhos de qualquer criança naquela sessão, ele era real, conseguíamos sentir o peso da pata dele na grama. Os nossos olhos ainda não estavam acostumados com a computação gráfica, a fantasia não havia sido banalizada. Uma sensação única, inesquecível, o meu queixo literalmente caiu.
Uma sala lotada de crianças e adolescentes, em completo e respeitoso silêncio. Quem viveu esta época mais elegante, sente a brutal diferença na sociedade atual, cada vez mais fria e indelicada. Hoje, em qualquer sessão de cinema, presenciamos apenas a grosseria generalizada. Que saudade da época em que não existiam celulares.
Eu lembro que gostei demais do filme, fiquei perturbado com aquela subtrama do funcionário traidor, ainda que esperançoso pela possibilidade da continuação com aqueles embriões refrigerados que caíram da mão dele, no ataque noturno, e foram parar na lama. Sem internet, o usual era discutir sobre a trama em família. Longos meses depois, mais uma espera angustiante, para poder locar o VHS, que saía mais rápido que pão quente na “RG Vídeo”, do amigo Ricardo.
Eu ficava horas admirando na locadora de vídeo aquele estojo diferente que simulava ser feito de pedra. Conversando, passeando dentro da loja, fazia hora na esperança de que as fitas fossem devolvidas.
Na parte de fora, com luz especial, um lindo display com o símbolo, hoje clássico, do filme. Como a fita não era devolvida, eu acabava alugando outras, postergando em alguns dias a vontade desesperada de viver novamente aquela experiência.
Amar cinema naquela época era, de fato, uma maravilhosa aventura.
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