Críticas

“Amarga Esperança”, de Nicholas Ray

Amarga Esperança (They Live By Night – 1949)

Nos anos 30, o jovem Bowie e outros dois comparsas fogem de uma prisão no Mississipi. Bowie sonha em fugir com sua namorada e ter uma vida tranquila. Mas é convencido pelos companheiros a continuar no crime. E a polícia está em seu encalço.

Esta primeira produção de Nicholas Ray era considerada por François Truffaut como a melhor em sua filmografia. Já demonstrando sua empatia pelos rejeitados, que seria tema recorrente em sua carreira, o diretor abraça o jovem casal, Farley Granger e Cathy O’Donnell, que foge da lei, enquanto busca um recomeço. O filme inspirou, entre outros, “Bonnie e Clyde”, de Arthur Penn e “Terra de Ninguém”, de Terrence Malick, porém, sua despretensão o coloca em um patamar superior.

Os jovens compartilham a ausência das figuras de autoridade. Suas mães fugiram com amantes. O jovem viu o pai sendo eliminado na sua frente, enquanto o pai da garota é vítima do alcoolismo, sendo motivo de deboche por onde passa. O amor entre os dois parece nascer, não da empatia entre eles, muito pelo contrário, fica bem claro que eles não possuem muito em comum, mas sim da carência compartilhada.

Inexperientes e emocionalmente frágeis, enxergam a vida por uma lente de ingenuidade, que o diretor capta perfeitamente. Bowie (Granger) acredita que sairá ileso da situação espinhosa em que se meteu, enquanto Keechie (O’Donnell) se compara a um cão fiel que não irá se afastar de seu dono, mesmo em sua ausência, demonstrando nessa analogia sua completa passividade.

A cena que representa a genialidade do diretor ocorre quando o casal intenciona se casar. A forma como os diálogos são conduzidos, com a desconstrução do ritual, colocando em evidência sua fragilidade na pequena capela. Eles decidem apenas pelo básico, o texto padrão e sem música, mas precisam pagar a gorjeta dos dois desconhecidos que servem como testemunhas.

Ao final, o dono do estabelecimento conclui que mantém seu serviço porque aquele ritual faz as pessoas felizes, concede-lhes alguma esperança, como ele afirma: “De certa forma, sou um ladrão exatamente como você.”

* O filme foi lançado em DVD pela distribuidora “Versátil”.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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