Críticas

“Vive-se Uma Só Vez”, de Fritz Lang

Vive-se Uma Só Vez (You Only Live Once – 1937)

Sua curta e eficiente duração, cerca de oitenta minutos, trabalha bem o suspense, que aliado ao fator de identificação com o protagonista, mérito de Henry Fonda, que somente rivalizava nesse sentido com James Stewart, faz com que a trama evolua de forma bastante objetiva. Você não irá consultar seu relógio, pode ter certeza.

O diretor alemão Fritz Lang, neste que considero seu melhor trabalho em solo americano, trabalha um espinhoso tema. O jovem Eddie (Fonda) acaba de ser liberado da penitenciária pela terceira vez, com a ajuda de sua devotada namorada (Sylvia Sidney) e um defensor público. Os crimes que ele cometeu eram sem expressão, porém, pela lei de seu estado, caso ocorresse uma quarta prisão, seria seu fim na cadeira elétrica.

Apaixonado e dedicado a manter-se um homem de bem, o jovem busca empregos e sonha em constituir família, realizando o sonho americano. O problema, muito bem abordado no roteiro, é que a sociedade hipócrita passa a utilizá-lo como para-raios de seus próprios erros. Uma cena que simboliza bem esse leitmotiv ocorre próximo ao final, quando dois policiais, que se encontram na cena de um crime cometido pelo rapaz, falam ao telefone com seus superiores e os informam sobre o que foi roubado, mentindo sobre o dinheiro retirado da caixa registradora, que nem sequer havia sido tocada, insinuando que irão aproveitar a situação em benefício próprio. Ele será sempre um criminoso aos olhos da população.

Como curiosidade, acho interessante fazer uma comparação com outro personagem vivido por Henry Fonda, exatamente vinte anos depois, na obra-prima de Sidney Lumet: “Doze Homens e uma Sentença” (Twelve Angry Men – 1957). O Eddie é injustamente condenado em sua quarta prisão, por um crime que não cometeu, porém, não teve a sorte de ter no júri de seu caso, um homem obstinado como o jurado número oito, disposto a promover a mudança de atitude em seus colegas de mesa, fazendo-os perceber que é possível endireitar um caráter bem intencionado, levando-o a sentir-se reintegrado à sociedade.

Outro ponto interessante que incita a reflexão é que, após essa negativa da sociedade, as atitudes violentas do rapaz tornam-se cada vez mais inconsequentes. A injustiça alimentou o selvagem bandido que habitava na alma de um rapaz desorientado.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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