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Não se Deve Profanar o Sono dos Mortos (Non si deve
profanare il sonno dei morti – 1974)
Conhecida também pelo absurdo título “Zumbi 3”, essa
produção ítalo-espanhola dirigida por Jorge Grau, quatro anos antes do “Despertar
dos Mortos”, de George Romero, tem a mesma pegada de crítica sociopolítica de
“A Noite dos Mortos-Vivos”, com os abusos da ditadura franquista simbolizados
na figura de autoridade estupidamente truculenta, o personagem do inspetor, uma
caricatura asquerosa. A trama não tem pressa de satisfazer o desejo imediatista
pelo gore, o primeiro ato é basicamente dedicado à construção de suspense,
porém, quando os ataques iniciam, você consegue perceber claramente uma fonte
que matou a sede de, entre outros, Lucio Fulci, com seu “Terror nas Trevas”.
O retrato da sociedade, como exibido nas cenas iniciais, salienta
um aspecto que agrega maior relevância ao filme, um cenário devastado pela
poluição, o resultado de décadas de irresponsabilidade. Os heróis da
resistência, desajustados, um hippie motoqueiro, uma jovem drogada e sua irmã
desequilibrada, que, comparados ao tradicionalismo representado pelos policiais
fascistas, são o elemento caótico necessário para que alguma ordem se
estabeleça. Os alienados não são os zumbis, na metáfora usual do gênero, mas,
sim, os tidos normais, aqueles que contribuíram, com o comodismo preguiçoso dos
inconsequentes, para a degradação da sociedade. Como forma de evidenciar essa
superioridade, o zumbi possui força física suficiente para dominar o vivo, além
de manter, em sua aparência, grande similaridade.
A maquiagem de Giannetto De Rossi faz com que eles se
pareçam com vivos desorientados, com olhos vermelhos, como homenageado no “Extermínio”,
de Danny Boyle, ao invés de corpos em estado de decomposição. Enquanto Romero
apontaria o dedo para o consumismo, Grau ousa sinalizar para a
irresponsabilidade do homem com o meio ambiente, colocando a culpa do
apocalipse zumbi em um recurso experimental para deter uma praga agrícola. Essa
modificação feita pelo diretor no roteiro original, onde essa máquina era algo
saído do universo da ficção-científica, ajudou a obra a continuar tematicamente
relevante nos dias de hoje, não apenas como a primeira a ousar pisar o mesmo
terreno do emblemático clássico de Romero. E, acho válido salientar, a meu ver,
o aspecto mais aterrorizante: o som gutural emitido pelos zumbis, incorporado
na trilha sonora.
* O filme está sendo lançado em DVD, pela distribuidora “Versátil”, na caixa “Zumbis no Cinema”, contendo ainda, além de extras, “A Noite dos Mortos-Vivos”, “A Noite dos Arrepios” e “A Noite do Terror Cego”. Imperdível para os fãs do gênero.
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