Flint Contra o Gênio do Mal (Our Man Flint – 1966)
Quando uma organização criminosa mundial quer ter poder sobre o clima e atividades tectônicas, o agente secreto Derek Flint (James Coburn) aceita o trabalho de impedir que o grupo atinja seus objetivos. Enquanto ele estuda como atuará para impedir os criminosos ele quase não consegue escapar de uma tentativa de eliminação, mas o comandante da agência de espionagem chamado Cramden (Lee J. Cobb), é quase mortalmente ferido.
Por mais que eu esteja gostando muito da nova fase da franquia James Bond, encabeçada por Daniel Craig, sinto falta do senso de humor debochado que fazia parte, em variadas porções, dos espiões vividos por Sean Connery, Roger Moore e Pierce Brosnan. Até Timothy Dalton, que levava a proposta da seriedade como primeira diretriz, foi protagonista de momentos absurdos, como quando utilizou um estojo de um violoncelo para esquiar na neve.
Esta atitude sangue nos olhos do novo espião não me vende, com naturalidade, a ideia de que ele é um mulherengo, já que nenhuma mulher se interessa por homens sem emoção, sem humor. Bateu saudade do Derek Flint, vivido por James Coburn, nesta hilária resposta americana aos gracejos elegantes do herói inglês criado por Ian Fleming.
Vamos combinar que, em matéria de defesa pessoal, não tem como comparar os dublês das produções britânicas com os ensinamentos do mestre Bruce Lee. Coburn, que foi aluno do grande dragão na vida real, utiliza sua técnica em várias cenas verdadeiramente empolgantes. Um dos acertos do filme, mérito da direção de Daniel Mann, algo que foi ignorado na inferior sequência, é trabalhar as lutas como algo sério, com senso de perigo, ainda que, invariavelmente, elas terminem com algum alívio cômico, como a que ocorre dentro de um banheiro.
A geração atual teve uma versão genérica, bastante superestimada, vivida por Mike Myers, na série “Austin Powers”, que abusava do mau gosto em várias gags, com alguns lampejos de criatividade. Flint é fruto de seu tempo, porém, direciona sua crítica bem-humorada aos excessos de psicodelia, potencializando-a de forma estereotipada, na sequência da hipnose das garotas, com direito até a um ambiente reservado às frenéticas danças da época, todos fazendo os mesmos movimentos, reforçando o ponto de que aquela sociedade estava robotizada, submissa a um padrão limitador de hábitos e costumes.
Até Elvis Presley, dois anos depois, protagonizaria o filme “Meu Tesouro é Você”, em que também ocorria a mesma crítica social, travestida pela comédia.
Adoro a forma como a produção emula os gigantescos cenários, como o esconderijo do vilão dentro do vulcão, elemento clássico estabelecido pelo designer de produção Ken Adam, na franquia 007. Ela faz isto de uma forma tão segura, que o sorriso nasce da simples constatação de que são tolos elefantes brancos, funcionais apenas no cinema. Sem sutileza alguma, o roteiro chega a mostrar uma jovem descartando um livro, cópia exata das capas das obras de Fleming, afirmando que é um absurdo acreditar naquela tolice.
Vivendo em seu harém, com quatro belas mulheres submissas, situação trabalhada em tom de indisfarçável ridicularização, fica implícita também uma crítica, à frente de seu tempo, ao machismo do espião britânico, no contexto do período pós-Connery, quando as mulheres eram, com raras exceções, objetos românticos dispensáveis nas tramas.
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