Críticas

“Rebelião em Alto-Mar”, de Roger Donaldson

Rebelião em Alto-Mar (The Bounty – 1984)

Em 1789, um navio inglês empreendeu uma viagem até o Taiti para conseguir mudas de fruta-pão. O tenente William Bligh (Anthony Hopkins), comandante do Bounty, começa a agir de forma cada vez mais despótica, impondo castigos cada vez mais duros para a tripulação. Isto faz com que Fletcher Christian (Mel Gibson), o melhor amigo de Bligh, comande um motim.

Este momento marcante da história naval americana, ocorrido em 28 de Abril de 1789, tornou-se material para vários livros, inclusive, um escrito pelo próprio capitão Bligh, e adaptações cinematográficas. A mais famosa e criticamente bem recebida foi “O Grande Motim” (The Mutiny on the Bounty – 1935), com Clark Gable e Charles Laughton.

Houve também a conturbada versão de 1962, em que o astro Marlon Brando acabou emulando o tom da obra e quis tomar o controle da produção, tirando-a das mãos de Lewis Milestone, criando falas no improviso, causando atrasos e prejudicando seus colegas.

A versão filmada em 1984 é a que costuma ficar na sombra das duas já citadas, difícil competir com um clássico validado por um Oscar e os arroubos de “prima donna” de Brando, porém, em muitos aspectos, é a melhor adaptação da obra original.

O personagem Christian, que nos livros não assume posição de destaque, em todas as adaptações torna-se um protagonista, sempre sendo defendido por um astro de popularidade estabelecida (Gable, Brando e Gibson).

Um diferencial interessante na versão mais moderna é o foco da narrativa estar nas motivações de Bligh, diferindo bastante da estrutura dos livros, em como ele perdeu sua autoridade no motim, o que é ótimo quando o personagem é vivido por um ator altamente competente como Anthony Hopkins.

Gibson demonstrou ser um dos melhores de sua geração, defendendo cenas difíceis, como seu rompante de fúria contra seu superior, outrora amigo, em comando.

Vale ressaltar que o excelente roteiro de Robert Bolt, o mesmo de “Lawrence da Arábia” e “Dr. Jivago”, corajosamente utiliza um aspecto encontrado no livro de Robert Hough, a possível atração que Bligh sentia pelo jovem, o que explica bem a sua mudança radical de temperamento após perceber que Christian está se apaixonando por uma bela nativa.

A direção competente de Roger Donaldson equilibra bem a tensão entre os marinheiros, entre eles, Liam Neeson e Daniel Day-Lewis, e a progressiva instabilidade emocional de seu capitão, estabelecendo um ritmo agradável de assistir. O tempo foi generoso com a obra.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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