Críticas

“Cães Raivosos”, de Mario Bava

Cães Raivosos (Cani Arrabbiati – 1974)

Três assaltantes em fuga da polícia sequestram uma jovem mulher, um homem e seu filho doente, os colocam no carro e pegam estrada.

Este filme é um vigoroso murro na cara do espectador, um trabalho genialmente despretensioso, bem diferente do que o diretor costumava realizar, com câmera na mão, passado quase que em sua totalidade no confinamento de um automóvel, onde podemos sentir o odor do suor e do sangue dos três sequestradores e de suas vítimas.

É uma intensa brutalidade, em tempo real, que se eleva gradualmente, à medida que o desespero toma conta deste microcosmo da sociedade, em que ninguém parece ser verdadeiramente inocente.

Mario Bava, um dos maiores diretores de sua época, praticamente sem uma moeda no bolso, tentava provar para seu público que ainda era capaz de competir com os jovens cineastas e seus filmes policiais. O produtor faliu, o projeto teve que ser cancelado. E, infelizmente, o idealizador faleceu sem conseguir ver sua última obra-prima finalizada, que seria lançada, com uma montagem equivocada, apenas na década de noventa.

A versão que consta neste impecável lançamento da distribuidora “Versátil” é a mais fiel à visão do diretor, restaurada após um esforço dedicado da atriz da obra, Lea Lander, em respeito ao legado artístico do mestre italiano.

É difícil comentar sem revelar spoilers, porém, sinalizo na direção de uma das cenas mais impactantes, a pressão psicológica que a mulher, vivida por Lander, após uma tentativa de fuga, sofre de uma dupla de psicopatas que caberiam perfeitamente na família do Leatherface de “O Massacre da Serra-Elétrica”: O Bisturi, vivido com competência pelo cantor Don Backy, uma espécie de Jerry Adriani italiano, e o pervertido Trinta e Oito, vivido por George Eastman, rosto marcante em vários Spaghetti Westerns.

O nível de tensão alcançado, com total simplicidade técnica, faria Sam Peckinpah roer as unhas.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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