Críticas

“Meu Pecado foi Nascer”, de Raoul Walsh

Meu Pecado foi Nascer (Band of Angels – 1957)

Amantha Starr (Yvonne De Carlo) é uma jovem privilegiada que perde seu alicerce quando o pai falece inesperadamente. Ao descobrir que ele vivia de dinheiro emprestado e que sua mãe era uma escrava, ela é comprada por um cavalheiro (Clark Gable) de Nova Orleans com alguns segredos.

Este é com certeza o filme mais melodramático do competente diretor Raoul Walsh, um épico de ambiciosas proporções, com a bela Yvonne De Carlo vivendo uma aristocrata que descobre ter sangue negro, sendo então vendida para o personagem de Clark Gable, um rico comerciante de algodão cujo passado esconde o arrependimento que serve de força motriz para suas ações.

Sidney Poitier interpreta o homem culto, criado com carinho por seu senhor desde a infância, um elo que o perturba sobremaneira, já que seria mais fácil odiar alguém que o desprezasse. Esse conflito existencial é o elemento mais eficiente da obra, conduzindo para o terceiro ato, em que os dois caminhos se cruzam no turbulento início da Guerra Civil, resultando em um duelo de sentimentos. O roteiro evita os estereótipos, facilitando o investimento emocional nos arcos narrativos. Todos os personagens possuem motivos bem delineados para suas atitudes, desde os momentos de nostalgia infantil captados nas primeiras sequências, até o desfecho simbólico de renascimento nas águas, com o casal deixando definitivamente o passado, abraçando um novo começo.

A trilha sonora de Max Steiner alcança o equilíbrio entre o tom de grandeza e o foco nos pequenos conflitos, um excelente complemento. É uma pena que, nas poucas vezes que comentam sobre o filme, sempre optam pelo lugar comum de reduzir os méritos do projeto ao compará-lo com “E o Vento Levou”, apenas pelo contexto histórico e pelo protagonista.

A história é corajosa na construção dos personagens, estruturalmente à frente de seu tempo, o que explica o fracasso de público e crítica na época de sua estreia. É interessante perceber na trama algumas das possíveis inspirações para o “Django Livre” de Quentin Tarantino.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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