Artigo

Analisando o personagem Alan Grant de “Jurassic Park”

Os dinossauros, estes animais que representam o fantástico de forma tangível, cuja existência se pode provar em escavações, dominam o imaginário de quem lê a obra de Michael Crichton e assiste a excelente adaptação cinematográfica dirigida por Steven Spielberg, porém, o elemento mais fascinante é humano, representado pelo personagem vivido por Sam Neill.

Alan Grant é uma espécie em extinção, um profissional que reavalia duramente sua função como paleontólogo em um mundo onde os dinossauros se transformaram em atração de um luxuoso parque de diversões. Ele não consegue se sentir atraído por qualquer informação que venha de forma fácil, sem precisar sujar as mãos. Ao ser questionado por uma criança sobre fósseis, ele demonstra total falta de desenvoltura, um afastamento consciente de sua contraparte infantil. O mundo fantasioso que habita os sonhos da criança foi gradualmente extirpado, dando lugar à frieza analítica do especialista. Ele perdeu a essência que o motivou a decidir sua profissão, ele deixou a sua Terra do Nunca e escolheu crescer. Este leitmotiv é muito utilizado por Spielberg, como em “Hook – A Volta do Capitão Gancho” e “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”.

O mais interessante é perceber como o personagem, ainda que de forma desajeitada no início, considera empolgante a convivência com os netos de Hammond, enquanto os outros adultos ignoram aquelas crianças. Tim, em especial, com seu amor pela paleontologia, estabelece uma ligação imediata com Grant, uma identificação mútua. Esta relação é mais bem retratada no livro, que explora também a saudade que ele sente da esposa, falecida anos antes. O adulto inicialmente sente medo, quer evitar se apegar, como se fugisse do menino sonhador que foi outrora, mas acaba abraçando a paternidade dos filhos que sempre sonhou ter.

O desconforto dá lugar ao instinto de proteção e companheirismo. O seu primeiro contato com o Tricerátopo, o dinossauro que o encantava no passado, é filmado de forma a acentuar o resgate mágico daquelas lembranças, como o adulto que reencontra um brinquedo de sua infância. Após todas as cenas de ação, o deslumbramento das perseguições, o diretor escolhe finalizar a trama enfocando as crianças aconchegadas nos braços de Grant. “Jurassic Park” é, acima de tudo, uma história sobre paternidade.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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