Críticas

“Meu Coração Canta”, de Walter Lang, com SUSAN HAYWARD

Meu Coração Canta (With a Song in My Heart – 1952)

Jane Froman, vivida pela sempre competente Susan Hayward, foi uma bela cantora que encantava o público americano. Ela dominava as rádios, aparecia no cinema e, por volta da década de 50, chegou a ter seu próprio programa na televisão. Ao contrário do que ocorre no Brasil, em que qualquer subcelebridade pode ser homenageada em uma cinebiografia, ser uma artista amada nacionalmente não garantia a produção.

O que estimulou a realização do filme foi sua nobre atitude após sofrer um terrível acidente de avião, em plena Segunda Guerra Mundial, durante uma turnê para as tropas americanas. Sendo uma das poucas sobreviventes, ela sofreu trinta e nove operações, quase perdeu uma perna, porém, sem um pingo de autocomiseração, continuou a se apresentar em seus shows, muitas das vezes, tendo que ser sustentada no palco.

É linda a cena em que, apoiada em muletas, a jovem canta e emociona um jovem soldado, um dos primeiros trabalhos de Robert Wagner, traumatizado pelas experiências vividas nos campos de batalha. O mesmo que, tempos antes, havia sido apresentado como o símbolo da ingenuidade sorridente de uma juventude que comprava a propaganda romanceada da guerra.

A boa atuação de Wagner transparece nos olhos toda a frustração e o desejo de voltar para casa, consciente de haver perdido grande parte de sua própria essência naquele jogo sujo. Vale destacar que Hayward emula perfeitamente o gestual da cantora, que é responsável pela voz na trilha sonora.

Outro ponto alto na trama é a presença sempre espirituosa de Thelma Ritter, em um de seus melhores momentos, como a enfermeira que ajuda Froman em sua recuperação, uma personagem criada no roteiro de Lamar Trotti.

O roteiro pende, obviamente, para o patriotismo exacerbado, como a sequência final evidencia, mas, graças à direção elegante de Walter Lang, o que se mantém vivo na memória após a sessão é a força psicológica da protagonista, sua integridade.

E, claro, a beleza das canções é um ponto alto, uma seleção fantástica que inclui, além da maravilhosa canção-título, composta por Richard Rodgers e Lorenz Hart, clássicos como “Blue Moon”, “Get Happy”, “Embraceable You” e “That Old Feeling”.

* O filme está sendo lançado em DVD pela distribuidora “Classicline”.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

Recent Posts

Filmes em que o DESIGN DE SOM é praticamente um PERSONAGEM

Design de som é o processo de criar e manipular elementos de áudio em uma…

7 horas ago

Dica do DTC – “Dominada Pelo Ódio”, de John Korty

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

8 horas ago

Crítica de “O Brutalista”, de Brady Corbet

O Brutalista (The Brutalist - 2024) Arquiteto (Adrien Brody) visionário foge da Europa pós-Segunda Guerra…

3 dias ago

Dica do DTC – “Nazareno Cruz e o Lobo”, de Leonardo Favio

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

5 dias ago

Os MELHORES episódios da fascinante série “BABYLON 5”

Babylon 5 (1993-1998) Em meados do século 23, a estação espacial Babylon 5 da Aliança…

6 dias ago

Os 7 MELHORES filmes na carreira do diretor britânico JOHN SCHLESINGER

O conjunto de obra do saudoso diretor britânico John Schlesinger é impressionante, mas selecionei 7…

1 semana ago