Três Mulheres (3 Women – 1977)
Gosto de imaginar “Três Mulheres” como sendo o capítulo final, emocionalmente maduro, de uma trilogia informal na filmografia do diretor Robert Altman, precedido por “Uma Mulher Diferente” (That Cold Day in the Park – 1969) e “Imagens” (Images – 1972), abordando, em essência, a formação da complexa psique feminina. Os três, especialmente o segundo, flertam abertamente com elementos do cinema de terror, com estruturas que nos remetem aos nossos pesadelos mais enigmáticos e, por conseguinte, perturbadores.
O último, incompreendido pela crítica de sua época, nasceu de um sonho do diretor, que vivia um período angustiante, com sua esposa hospitalizada. Sem um roteiro tradicional, Altman, com o auxílio da escritora Patricia Resnick, elaborou um rascunho de cinquenta páginas, que foi trabalhado nas filmagens, com os atores improvisando boa parte dos diálogos, em cenas que haviam sido pensadas na noite anterior.
É óbvia a inspiração em “Persona”, de Ingmar Bergman, porém, com exceção da utilização do elemento doppelgänger, a trama não procura confundir o público, há uma maior objetividade temática que conscientemente utiliza o ilógico onírico como moldura.
As três mulheres, na realidade, personificam variações de um indivíduo: Mildred. A personagem de Sissy Spacek rejeita seu nome, apelidada de “Pinky Rose”, o símbolo da feminilidade embrionária, inicia agindo como uma criança que dá os primeiros passos em um mundo desconhecido. Ela encara com estranho fascínio os idosos em sua terapia na piscina, ajudados pelas jovens enfermeiras, como se, até aquele momento, ignorasse a finitude humana.
A personagem de Shelley Duvall adaptou seu nome, “Millie”, algo que considera menos antiquado, reflexo de seu desejo voraz por se encaixar no padrão feminino glamouroso que admira. A borda de sua saia sempre fica presa na porta de seu carro, mas ela nem percebe, uma gag recorrente que evidencia sua inadequação.
Ela esconde o medo da indiferença com uma projeção exagerada, os vários cigarros que maneja como uma estrela da clássica Hollywood, os eventos sociais que organiza, ainda que ninguém se importe o suficiente com ela para que estes efetivamente ocorram. Os únicos que suportam suas longas dissertações sobre trivialidades são os pacientes idosos, já que eles não encontram rotas de fuga.
Após um momento dramático, estas duas personalidades se amalgamam, forjando o nascimento de uma nova persona, como uma “Pinky 2.0”, uma excelente atuação de Spacek, que transforma sua anterior ingenuidade em pura arrogância, uma versão idealizada dos sonhos reprimidos de “Millie”, esbanjando toda a confiança ilustrada nos relatos fantasiosos da personagem de Duvall.
A terceira mulher, vivida por Janice Rule, está grávida. “Willie” é alguém que escolhe o silêncio, uma versão do feminino em seu estágio amadurecido, em simbologia, ela está aprendendo a lidar com a mortalidade, a ser a avó, “Millie” aprendendo a ser mãe, enquanto “Pinky” atravessa os conflitos existenciais de uma jovem filha.
O fato de “Willie” ser mostrada como uma artista, pintando figuras mitológicas no fundo de uma piscina vazia, corrobora a impressão de que “Millie” e “Pinky”, assim como todo o resto, são criações suas, os fragmentos de sua memória, em diferentes estágios de sua vida.
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Filme que nunca esqueci com história e cenas impactantes. Amei!!! Gostaria de assistir outra vez...