Críticas

“Um Clarim ao Longe”, de Raoul Walsh

Um Clarim ao Longe (A Distant Trumpet – 1964)

O Tenente Hazard, que acabou de sair da Academia de Westpoint, chega ao Território do Arizona pelo quente e empoeirado Fort Delivery. Aterrorizado pela relaxada disciplina da tropa, ele restringe seus privilégios e os submete a árduo rigor. Ao mesmo tempo, ele se acha apaixonando-se por Kitty, a esposa de seu oficial comandante. Esse romance fica complicado quando sua noiva de Back East decide fazer-lhe uma visita.

Nem mesmo a atuação fraca de Troy Donahue prejudica esta nobre despedida do diretor Raoul Walsh, uma digna incursão no subgênero dos filmes de Cavalaria, obras de faroeste em que o foco está mais direcionado para a relação de camaradagem entre os homens da lei. Ele ainda tentou realizar “Monte Walsh”, que acabou se tornando “Um Homem Difícil de Matar”, dirigido por William Fraker. É bonito perceber que o cineasta, já no crepúsculo de sua vida, mantinha o entusiasmo pela criação, exalado em cada sequência, trabalhando o tema da igualdade de direitos, especialmente o do índio americano, que recebe neste projeto uma apaixonada defesa.

Ele queria John Wayne como protagonista, porém, objetivando a imediatista atenção do público jovem, os produtores tomaram a decisão mais equivocada, escalando o canastrão Donahue como o honrado tenente Matt Hazard. Aproveitando a química do jovem com sua futura esposa Suzanne Pleshette, no sucesso popular: “O Candelabro Italiano”, lançado alguns anos antes, o estúdio considerou interessante repetir a dose, em uma ambientação completamente diferente.

O ponto alto, algo que confirmei nesta revisão, é a participação da bela e pouco lembrada Diane McBain, como a noiva que percebe o despertar da paixão do seu amado pela gentil viúva, vivida por Pleshette. Outro detalhe importante, um diferencial que agrega maior mérito à obra, é que Walsh fez questão de que, nas cenas, os índios falassem em sua própria língua. Kevin Costner faria o mesmo, décadas depois, em “Dança com Lobos”.

A fotografia de William Clothier, habitual colaborador de John Ford, impressiona nas sequências de ação filmadas no Novo México. “Um Clarim ao Longe” é um faroeste revisionista, atitude simbolizada na cena do julgamento, em que o general afirma que a imprensa livre e eleições justas são as únicas armas possíveis na luta para que os índios recebam um tratamento digno.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

Recent Posts

Crítica de “Gladiador 2”, de Ridley Scott

Gladiador 2 (Gladiator 2 - 2024) Lúcio (Paul Mescal) deve entrar no Coliseu após os…

4 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

5 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na AMAZON PRIME

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

5 dias ago

Dica do DTC – “Agnaldo, Perigo à Vista”, com AGNALDO RAYOL

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

1 semana ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

1 semana ago

Dica do DTC – “Pedro Páramo” (1967), de Carlos Velo

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

2 semanas ago