Críticas

“Gemma Bovery – A Vida Imita a Arte”, de Anne Fontaine, na LOOKE

Gemma Bovery – A Vida Imita a Arte (Gemma Bovery – 2014)

A inglesa Gemma Bovery se muda com o marido para uma pequena cidade francesa. Ela logo desperta a atenção de Martin Joubert, um morador local que fica encantado com sua beleza e também com as semelhanças que possui com a protagonista de “Madame Bovary”, clássico de Gustave Flaubert.

O sentimento de insatisfação existencial da Bovary de Flaubert percorre a trama desta curiosa, ainda que irregular, homenagem, comandada por Anne Fontaine. O elegante padeiro francês, vivido por Fabrice Luchini, estabelece a analogia, enxergando na jovem turista inglesa, uma atuação impecável de Gemma Arterton, uma visão idealizada de sua heroína literária, o elemento sensual que irá perturbar seu conforto matrimonial.

A abordagem indiferente, na frente e por trás das câmeras, no entanto, não consegue sustentar a mão pesada do texto, que minimiza o potencial de encantamento ao forçar, até mesmo nas situações mais triviais, um verniz de austeridade pretensamente intelectual.

É eficiente a maneira como o roteiro desenvolve a identificação do personagem masculino com a imagem projetada de suas frustrações românticas, porém, a ironia dominante na graphic novel de Posy Simmonds não é transposta com fluidez, resultando, na maior parte do tempo, em tentativas ingênuas de metalinguagem, nascidas de um excesso de coincidências tolas, ambientadas em um belo cenário.

A protagonista, com sua inocência provocante, parece saída do erotismo nostálgico dos filmes de Bigas Luna, uma musa objetificada, o que contrasta com a visão profundamente humana da anti-heroína de Flaubert.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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