O Melhor Pai do Mundo (World’s Greatest Dad – 2009)
* O texto contém spoilers, recomendo que seja lido após a sessão.
Robin Williams, com exceção de suas breves participações em “Uma Noite no Museu” e “Happy Feet”, estava amargando uma longa sequência de fiascos.
O último filme realmente interessante em que havia participado era “Insônia” (2002), de Christopher Nolan, em que teve mais uma chance de demonstrar sua competência em dar vida a personagens sombrios, algo que já se mostrava presente no subestimado thriller “Retratos de Uma Obsessão”.
Exatamente por causa desta maré de indiferença, poucos foram os que perceberam esta pequena pérola, uma tremenda injustiça, já que se trata de um dos filmes mais interessantes em seu gênero, verdadeiramente original, com uma direção corajosa de Bobcat Goldthwaith, comediante stand-up, conhecido pela geração anos 80 como o pirado Zed, de “Loucademia de Polícia”.
Interpretando uma espécie de antítese de seu personagem em “Sociedade dos Poetas Mortos”, Williams vive um professor de poesia frustrado, que sempre sonhou em ser um escritor valorizado.
O seu filho adolescente, intensamente grosseiro, acidentalmente tira a própria vida em uma experiência exótica, fazendo com que o pai, pensando no legado do filho, decida escrever um falso bilhete de despedida, modificando a cena do acidente.
A reviravolta ocorre quando o texto acaba se tornando um sucesso em sua escola, inspirando os alunos a enfrentarem seus medos e suas fragilidades. O garoto que era odiado, desprezado por todos, passa a ser o ídolo da garotada.
A emoção na cena em que o pai encontra o filho é potencializada em revisão, já que traça óbvios paralelos com o falecimento do próprio ator, que, numa cena posterior, chega a afirmar que aquele ato de desespero é uma solução permanente para um problema temporário.
A interpretação contida transparece a ressonância do tema no homem por trás do personagem. Abaixo da camada de humor, vários pontos são levantados, como a necessidade de acreditar em sua vocação, além da imediata beatificação dos falecidos em nossa sociedade.
A obra também oferece uma das melhores utilizações de uma canção popular no cinema recente, inserida inteligentemente em seu contexto, no bonito desfecho ao som de “Under Pressure”, a inesquecível parceria de David Bowie e Queen.
A cena, um literal mergulho apoteótico e libertário, em que o homem, livre de todo o verniz hipócrita de uma existência escravizada pela opinião dos outros, celebra sua vitória interna, o ato de ter abraçado a dura verdade, sorrindo como um bebê que havia acabado de nascer.
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