Vida Cigana (Dom Za Vesange – 1988)
Perhan é um jovem que mora com a avó na periferia de Sarajevo e sonha se casar com Azra. Para isso, é convencido por Ahmed a ir para a Itália, a troco de uma promessa de fortuna rápida. A viagem revela-se uma armadilha, em que o jovem descobre que o “emprego”, na verdade, tem a ver com o tráfico de crianças.
O grande público pode se lembrar de “Arizona Dream”, com Johnny Depp e Jerry Lewis, que é um excelente ponto de partida para a obra verdadeiramente única do diretor Emir Kusturica, mas, para este escriba, os quatro melhores filmes dele são: “Vida Cigana”, “Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios”, “Gata Preta, Gato Branco” e “Underground – Mentiras de Guerra”.
O cineasta iugoslavo, como sempre, direciona sua atenção para as camadas menos favorecidas da sociedade, utilizando humor e generosas doses de realismo mágico, a difícil arte de captar o elemento surreal a partir de uma encenação fincada na realidade, criando sequências que realmente permanecem na mente por um longo tempo após a sessão. Adoro todos os momentos de interação entre o garoto e sua avó, o coração da trama, especialmente na cena em que ela defende o neto da verborragia preconceituosa da gananciosa mãe da namorada dele.
Como esquecer também o hilário “sequestro” das paredes da casa da família, o ato desesperado de um viciado em jogo? O roteiro utiliza a comunidade cigana como microcosmo, com todos os diálogos falados na língua romani, tendo na figura de seu protagonista, vivido por Davor Dujmovic, o relato clássico do inocente que desce ao inferno, em essência, um conto de amadurecimento.
E vale destacar a importância da trilha sonora de Goran Bregovic nesta encantadora imersão que a obra nos proporciona, uma espécie de paixão à primeira vista. Temas como “Scena Perhanove Pogibije” e “Glavna Tema”, com sua fascinante aura de melancolia, e, claro, a impressionante “Ederlezi”, uma versão de uma canção folclórica balcânica, que toca na cena onírica ambientada na festa de São Jorge.
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Muito bom, gostei.