Críticas

“Depois da Tormenta”, de Curtis Bernhardt

Depois da Tormenta (Payment on Demand – 1951)

Joyce (Bette Davis) é uma dama da sociedade rica, cujo marido infeliz quer o divórcio. Ela começa a pensar nos momentos que viveu ao seu lado, refletindo sobre as engrenagens dessa relação.

Bette Davis se saía melhor quando operava sob o comando de um diretor com personalidade forte, que aparava suas arestas, como foi o caso de seus trabalhos com William Wyler. Curtis Bernhardt foi o responsável por um dos melhores trabalhos da atriz: “Uma Vida Roubada”, de 1946, e conseguiu extrair dela mais um impecável estudo de personagem.

A estrutura é melodramática, com recursos datados, especialmente no terceiro ato, além de certa inconstância nas motivações da manipuladora protagonista, porém, a forma inteligente como o roteiro trabalha os flashbacks, mostrando várias fases no relacionamento do casal, numa anatomia das causas da separação, compensa qualquer falha. Hoje, a temática pode parecer simples, mas, em sua época, a postura da trama com relação ao divórcio, sem se debruçar em qualquer viés sensacionalista, deve ter sido impactante.

O comportamento da sociedade e, especialmente, das filhas, foge ao padrão moralista e machista do período. O filme foi finalizado antes da estreia de “A Malvada”, porém, o estúdio RKO adiou pacientemente o lançamento para aproveitar o vácuo do sucesso da obra de Mankiewicz. A atuação de Davis eleva a qualidade do material escrito, como sempre, com sua facilidade em resumir toda a agressividade dos diálogos em seu rosto, uma fúria contida.

O mais interessante, um elemento que continua atual, é a crítica à hipocrisia da alta sociedade, que esconde suas frustrações e o vazio existencial com festas intermináveis e apreço exagerado pela adulação, uma pressão social que só existe na mente daqueles que optam pela escravidão à grilhões de futilidade.

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Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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