Na Natureza Selvagem (Into The Wild – 2007)
Como é simbólica a breve cena que mostra o posicionamento correto dos garfos na mesa. Qual a razão de haver um posicionamento correto para garfos em uma mesa? A angústia dos pais (vividos por William Hurt e Marcia Gay Harden), que prezam acima de tudo o status da família, ao perceberem que o filho não vê necessidade de trocar seu carro antigo por um novo.
Os rituais, a teatralidade que esconde a hipocrisia, a formação universitária em uma função profissional que não interessa ao estudante, válida apenas por ser uma garantia de conforto financeiro no futuro. Qual noção de conforto? O executivo que veste a gravata apertada no andar mais alto de sua empresa daria tudo para estar, por alguns momentos, admirando o pôr do sol na beira do mar.
Em vários momentos chegamos a falar abertamente com o personagem: Já está bom, você conseguiu se afastar da presença opressiva e psicologicamente danosa dos pais, encontrou um porto seguro na figura de estranhos, o casal de hippies, o idoso gentil e carente, até mesmo uma jovem apaixonada. Agimos exatamente como estes personagens, procurando entender o que motiva o rapaz a seguir desatando laços, este desejo insaciável pelo isolamento.
Emile Hirsch, que vive Chris McCandless, facilita o investimento emocional com sua atuação, captando muito bem os extremos da aventura existencial deste recém-formado, que decide viajar sem rumo pelos Estados Unidos em busca de uma subjetiva noção de liberdade.
Ele consegue superar as tentações sociais, como o roteiro transmite na boa sequência em que o jovem vislumbra uma versão alternativa de sua realidade, o escravo da ganância em modelo industrial, com sorrisos e maneirismos calculados para satisfazer a imagem que os outros projetam nele.
A estrutura do filme pode ser confusa, porém, parece pensada exatamente com o intuito de fugir do melodrama comum.
O diretor Sean Penn, com mão segura, busca uma conexão fragmentada, ajudado pela fotografia de Eric Gautier, uma emoção despertada mais pela constatação da coragem e do amadurecimento do protagonista, ao invés da lágrima que seria vertida facilmente na opção pela linearidade nesta bonita história real.
Gosto também de como a trama evidencia a importante transformação daqueles que conhecem o rapaz na jornada, verdadeiramente tocados por aquele andarilho enigmático.
E, o elemento mais importante, o roteiro não faz do personagem um herói, muito pelo contrário, sublinha a irresponsabilidade inerente à sua decisão e, acima de tudo, no poderoso desfecho, a conscientização do erro cometido. O ser humano não precisa dos rituais, mas, sem dúvida, precisa ser humano. A solidão de Chris, seu calvário autoimposto.
A lição foi aprendida da maneira mais dura, o “Alasca” que ele buscava com sua inconsequente arrogância adolescente, o objetivo primordial, era a compreensão da necessidade do perdão.
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Eu acho que haviam dois extremos, um, como você falou, era a necessidade de status da família, e o outro era a falsa liberdade que ele pensou que ia encontrar com a solidão.
No meio disso tudo, ele poderia, não vou nem dizer ter encontrado, porque ele encontrou, ter optado por outro caminho.