Estava eu, numa manhã chuvosa, revendo este filme que marcou minha infância, após dezessete anos. Uma das gravações em VHS que eu mais colocava para rodar no aparelho, um milagre que a fita esteja viva, ainda que a imagem tenha amarelado bastante.
Space Camp – Aventura no Espaço (Space Camp – 1986)
Andie, uma astronauta que nunca foi para o espaço, é escalada para treinar um grupo de estudantes num curso de férias organizado pela NASA. Numa das aulas, ela e os adolescentes de seu grupo entram num ônibus espacial, que é acidentalmente lançado ao espaço.
Eu tive dúvidas sobre onde postaria este texto, já que ele poderia, com folga, fazer parte do especial que resgata memórias da “Sessão da Tarde” e “Cinema em Casa”, porém, este faz parte da minha primeira fase de consciência cinematográfica, aquela época retida ludicamente na memória, por volta dos seis anos, antes do período escolar se firmar com a “Sessão da Tarde”.
E, anos mais tarde, quando ele passava frequentemente na televisão, no período em que sofria o auge do bullying na escola, eu me sentia mal ao ver a cena do robô sofrendo uma avaria técnica, tentando atender a todos os jovens que o haviam descoberto e estavam abusando dele. A decepção do menino, que cuidava do robô, era algo que me perturbava bastante, a ponto de evitar todo aquele trecho do filme. Ao rever hoje, claro, sem o processo de identificação imediata, ainda considero um momento esquisito, estranhamente sombrio, em um projeto que é, em essência, totalmente leve e alegre.
O primeiro choque, logo nos créditos iniciais, algo que nunca tinha percebido: Joaquin Phoenix, celebrado de forma justa atualmente por obras-primas como: “Ela”, interpretou o pequeno Max. Eu não me identificava com ele, apesar da idade, porque nunca tive aquele sonho típico de ser astronauta. Quando me perguntavam o que eu queria ser, apenas porque eu estava lendo um livrinho ilustrado sobre a teoria da relatividade de Einstein, comprado na banca de jornal, fascinado com tudo aquilo, eu dizia que queria ser cientista. Bom, o que realmente importa é que a trama parte de um pressuposto absurdo: adolescentes no espaço, ou, vale ressaltar, adolescentes incrivelmente estereotipados no espaço.
No roteiro tem o mulherengo tonto, a riponga descolada, a patricinha esforçada, vivida pela linda Lea Thompson, mãe do Marty McFly, e o esportista que vive mascando chiclete. Caso eles tivessem ganhado superpoderes nesta viagem, poderia ser facilmente a base para um projeto dos “Power Rangers”. Ah, tem também o Tom Skerritt, vivendo o comandante da missão, levando a sério demais o seu papel, o que me faz crer que deram uma versão alternativa do roteiro para ele.
E, claro, Kate Capshaw, a eterna namorada de Indiana Jones, em “O Templo da Perdição”, fazendo com charme, basicamente, uma variação da mesma personagem que interpretou em toda a sua carreira: ela própria. Com este elenco desafinado, uma direção pouco criativa de Harry Winer, uma das piores trilhas sonoras da carreira de John Williams, e, para piorar, o péssimo timing de lançamento, meses depois da tragédia com o ônibus espacial Challenger, a produção estava fadada ao fracasso comercial.
Um ponto que vale salientar, algo que me incomodou bastante nesta revisão, o arco narrativo da patricinha. Ela inicia com um discurso corajoso, desejando ser a primeira comandante mulher de um ônibus espacial, arruma confusão, encara o desafio, vence seus medos, ok. Em dado momento crucial, na hora em que tudo leva a crer que veremos a jovem provar seu valor e realizar seu sonho, ela percebe que seu namoradinho, o mulherengo tonto, está mais capacitado para a tarefa.
Ela então entrega sorridente o comando nas mãos dele. Caso tivesse uma cozinha no ambiente, com certeza, o roteiro a colocaria vestindo um avental e se prontificando a limpar a louça da equipe. É simplesmente uma subtrama que não leva a lugar algum, sem nenhuma coerência.
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