Todo escritor já passou por bloqueios criativos. Fellini
utilizou sua própria experiência como estímulo para seu excelente “Oito e
Meio”. O ato de escrever para um público é uma troca constante, com o leitor
sempre ajudando na “arte-final”, degustando aquelas linhas. Assim como o
cozinheiro profissional trabalha buscando o sorriso de satisfação daquele que
experimenta seu prato, o escritor anseia o apreço do seu leitor. Mas não é
recomendável que os ingredientes sejam banais, a combinação de sabores deve surpreender
os paladares mais exigentes. O erro está em entregar exatamente aquilo que o
degustador espera. Correr riscos é essencial. Abordar temas controversos, mesmo
sabendo que poderá perder leitores, teria que ser uma regra emoldurada na mesa
de trabalho de qualquer profissional da área. Ao mesmo tempo, não consigo ficar
indiferente à celebração de tudo que é mais medíocre, tolo e inofensivo.
O “fazer sucesso” parece estar intimamente ligado ao “não
incomodar ninguém”, ser tudo o que a sociedade consumidora deseja que você
seja. Por isso é comum que pessoas públicas não exponham suas convicções
políticas e religiosas, uma “Luciano Huckzação” que se prolifera como fogo em
uma floresta. Como o astro que precisa passar uma imagem de pegador, ainda que seja homossexual, por medo de perder oportunidades em sua carreira.
Aqueles que se assumem como indivíduos com alguma personalidade, fugindo da
lista de condutas ditadas por seus assessores de imprensa, são vistos
usualmente de forma negativa. É uma realidade desgastante, já que você chega à
conclusão de que, não adianta o quão forte sejam suas braçadas, nunca se
afastará muito da praia. O artista que debochava contundentemente desse sistema
medíocre em uma emissora pequena, pelo altíssimo salário que passa a receber em
uma emissora maior, acaba abraçando emocionado tudo aquilo que considerava de
má qualidade. No país onde o professor recebe uma miséria e o ator que não
gosta de ler vive com muito luxo, o conforto financeiro é gota d’água para o
náufrago, compra qualquer ideologia.
Estou sentado tentando vencer um bloqueio criativo, enquanto que, na televisão, os exemplares de sucesso atuais, os artistas de barro, são carregados nos ombros do povo. Fantoches midiáticos que ganham uma
fortuna, sem interesse algum pelo aprimoramento, enquanto eu não receberei um centavo por todas
as horas em que me dedico a escrever. Tem como constatar isso e não sofrer
eventualmente um bloqueio criativo? Saber que eu poderia estar vivendo confortavelmente agora, caso
tivesse jogado fora todos os meus anos dedicados à leitura, investindo cada
precioso segundo no funk carioca, no sertanejo universitário, ou, quem sabe, cavando espaço em um reality show? Imagino o que
um professor brasileiro pensa, quando checa sua conta bancária e a compara com o valor do
passe de um jogador de futebol.
Uma juventude que pensa apenas em concursos
públicos, ao invés de objetivar sua vocação profissional, já que é filha de uma nação que não incentiva talentos individuais,
empreendedorismo. A valorização da obediência subjugando o estímulo à inovação.
Vence aquele que possui mais facilidade de memorizar, uma habilidade
mecânica que não diz absolutamente nada sobre a inteligência de uma pessoa.
Vocês não imaginam a quantidade de profissionais frustrados, ainda que com a
confortável estabilidade financeira, suportando o dia a dia em cargos públicos. E é importante que os
pais passem essa consciência para seus filhos.
“Aqueles que desistiriam da liberdade essencial para comprar
um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança.”(Benjamin
Franklin)
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