Whiplash – Em Busca da Perfeição (Whiplash – 2014)
A trama é trivial, cabe perfeitamente numa descompromissada “Sessão da Tarde”, mas, não há como negar, a sua execução é um primor. Como o boxe no “Rocky”, de Stallone, o jazz em “Whiplash” é uma metáfora para conflitos que todos nós, em variados níveis, enfrentamos na vida. Acho engraçado que alguns críticos estrangeiros tenham citado como demérito a visão caricatural do gênero, parafraseando a expressão mais utilizada nos textos: “grotesca”.
É o mesmo equívoco tolo daqueles que reclamam que a quantidade de socos trocados nas lutas do garanhão italiano não condiz com a realidade do pugilismo. O interesse do diretor e roteirista Damien Chazelle está na transformação interna do jovem vivido por Miles Teller, alguém com baixíssima autoestima, que, de forma inconsciente, sempre colocou a culpa de seus problemas em outrem.
Solitário, carece da chama de segurança que facilita a saudável interação social. Ele tem um sonho artístico, idolatra o baterista Buddy Rich, porém, não encontra um sorriso acolhedor de aceitação na figura de seus familiares. E o erro dele era exatamente essa necessidade por aceitação. O responsável pela sinalização desse erro estrutural aparece na figura do mestre, vivido de forma impecável por J.K. Simmons.
O nível de agressividade dele, algo que poucos levam em consideração, é equivalente ao nível de conformismo patético do aprendiz. O tom de suas atitudes, em alguns momentos, ultrapassa os limites, escancara a antinaturalidade da alegoria. Só a mensagem importa. As críticas costumam apontar este aspecto na relação da dupla como pura brutalidade e humilhação, citando que o professor deveria ensinar o aluno a amar a música, falhando em compreender a real mensagem do filme, e, principalmente, que o exagero faz parte do processo metafórico.
O mestre percebe o talento do aprendiz, em um cenário em que muitos são comuns, medíocres. Ele também constata o apego do jovem pela autocomiseração, enxergando nesse vitimismo um obstáculo fatal em sua jornada. Todo seu inegável esforço seria em vão, ele sempre iria perder lugar para outros artistas, até menos talentosos, porém, com maior segurança emocional. A única maneira de despertar o garoto é instigando nele o ódio, a revolta, o desejo abrasivo pelo revide. O “olho de tigre” que Rocky precisou conquistar para vencer o oponente que o havia derrotado no terceiro projeto da franquia. Chazelle se apropria dessa fórmula altamente sensorial, estabelecendo um admirável senso de ritmo, conduzindo o público para um desfecho verdadeiramente empolgante.
Eu considero brilhante o fato de que, ao final, o diretor escolhe ignorar os aplausos, cortando sem piedade o reconhecimento da plateia. Com essa inteligente opção, o roteiro evidencia que o jovem finalmente conquistou a confiança em seu trabalho, a grande mensagem da trama. Ele simplesmente não se importava mais com a opinião dos outros. O mestre orgulhoso de seu aprendiz então responde com um sorriso.
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