Críticas

“Dolemite”, de D’Urville Martin

Dolemite (1975)

Dolemite é um malandro de sucesso que acaba sendo pego em uma armadilha do seu rival Willie Greene, passando vinte anos na cadeia. Um dia, sua parceira de negócios o ajuda a sair da prisão para que ele possa não só conseguir suas posses de volta, como também se vingar de Greene.

O herói, vivido pelo comediante Rudy Ray Moore, é um rapper com barriga de chope, protegido por mulheres da vida treinadas nas artes marciais, um mestre na arte de acertar seus oponentes com golpes de karatê à distância, puro poder de sugestão, já que eles não chegam nem perto do corpo das vítimas. Esta atitude, uma espécie de desleixo fascinante, pode ser sentida em todos os aspectos do filme, como nos microfones que invadem várias cenas.

O tiroteio final, clímax da trama ambientado no quarto de hospital, consegue resultar em um dos momentos mais confusos no gênero, graças ao posicionamento da câmera, que, ao que tudo indica, não tinha ideia de qual seria a coreografia adotada pelos atores.

O microfone acaba se tornando mais um personagem, enquanto tentamos compreender a lógica da situação, já que o roteiro deve ter sido escrito por mãos diferentes, em tempo real. As cenas apimentadas, ponto fundamental no gênero, são iluminadas e atuadas de forma que ficam parecendo um pesadelo bizarro.

Há um longo interlúdio musical, outro ponto fundamental, porém, protagonizado por uma banda terrível, um castigo para qualquer pessoa com um mínimo de bom gosto. Nada faz sentido, o que é um tremendo mérito. O que importa em um bom blaxploitation é o nível de audácia da proposta, a cara de pau, a malandragem da técnica, superando o baixíssimo orçamento, elementos dominantes neste projeto.

“Dolemite” também consegue ser genuinamente engraçado, como quando o padre mulherengo e contrabandista de armas solta esta pérola para seus fiéis: “Vejam o escândalo Watergate. Se o líder da nossa nação está roubando e escapando ileso, que diabos eles esperam de nós?”

A sequência: “O Tornado Humano”, lançada em 1976, força a mão no humor, mas consegue um resultado muito inferior.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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